DEMANDA

Vivo, atualmente, em pequena comunidade, alguns quilômetros distante do centro de cidade, também, pequena. Fácil imaginar, que a oferta de vários produtos, necessários à subsistência, aqui é limitada e pouco diversificada.

Vivi, antes, em vários lugares, e me acostumei a ter acesso a tudo que pretendesse, senão no instante preciso, ao menos em tempo e espaços diminutos de movimentação para tal fim. Quando resolvi me estabelecer onde moro, ainda raciocinava, subconscientemente, como se essa facilidade não estivesse comprometida, no recanto escolhido. Mas estava.

É óbvio que todo comércio, grande ou pequeno, para poder sobreviver e gerar lucro, tem de se adaptar ao meio e à clientela, atendendo ao montante exigido e preferências.

A esse procedimento padrão se denomina: demanda.

Literalmente, a palavra tem significado mais restrito, conforme diz o dicionário:

1 - manifestação de um desejo, pedido ou exigência; solicitação.

2 - ação de procurar alguma coisa; busca, diligência

No mercado, porém, demanda abrange oferta e procura. É a regra de ouro que mantém em funcionamento adequado a interação entre comerciantes e clientes. Mesmo que algum negócio novo se estabeleça, e ainda não conheça os costumes locais (isso é raro, pois antes já é comum pesquisar o perfil dos consumidores), providenciar-se-á pertinente questionamento aos frequentadores, para que expressem suas vontades e indiquem o que não encontraram.

Isso abrange todo tipo de produtos, em, praticamente, todos os ramos de atividade.

Tendo esse sistema em mente, passei, naturalmente, a ponderar sobre determinados nichos de comércio, que, apesar de funcionarem da mesma maneira, fundamentalmente, são vistos pela maioria das pessoas de outra forma. Melhor dizendo, são supostos, fantasiados, comentados, mas, dificilmente, observados.

São atividades mercantis à margem da lei, ou, frontalmente, contrárias a ela.

Nesse bloco podemos incluir contrabando, remédios falsificados, clones de automóveis sofisticados e outros veículos, e, principalmente, drogas proibidas.

Dia sim, dia não, vemos a polícia estourando centros de produção, capturando veículos abarrotados de mercadorias ilícitas, mas nada indica que a atividade criminosa diminua ou até sofra golpes muito duros. A explicação, visível mas ignorada, é que, como o lucro é imenso, há investimento de todo lado, feito por multidão de abonados (todos, oficialmente, insuspeitos), entre empresários, políticos e outros “bons cidadãos”. Só que esses investidores, ambiciosos, gananciosos, inescrupulosos, só botam seu rico dinheirinho no “negócio” porque sabem que há demanda. Explicando melhor: “há uma multidão de idiotas usuários, dispostos a gastar nisso.”

A lei pune o traficante, mas não seu investidor (monstro maior) ou o usuário, que busca, incessantemente, aquilo que o ilude, enfraquece e entorpece, passando por cima de qualquer obstáculo, e protegendo seus fornecedores, mesmo que à custa de lhes dar um crédito frouxo, incabível, sob toda gama de consideração possível.

Pelo menos cinco países tentaram, há décadas, eliminar as bebidas alcoólicas de seu meio social (outra droga terrível, apesar de considerada lícita), gerando o mesmo tipo de ação paralela, criminosa, que atormentou a população, até que as autoridades resolveram agir sobre as finanças do crime e os usuários. Infelizmente, quando já estavam vencendo, eliminando o crime e o produto, os grandes investidores, nas altas esferas políticas e empresariais, puderam contar com a criminosa e corrupta política de favores, e a bebida se tornou legal, novamente.

Algo muito parecido ocorreu com o fumo, outro carrasco social, que conta com o apoio de inúmeros energúmenos de terno e gravata, que possuem o poder da caneta.

Enquanto tivermos boçais, que consomem produtos ilegais, alimentando o crime, dando apoio ao fortalecimento de núcleos da bandidagem, que aliás, expande, continuamente, suas atividades, unindo-se a milicianos e oferecendo “proteção”, além de “benfeitorias piratas”, que costumam custar fidelidade absoluta, sob pena de periculosidade vital, nenhuma atividade da polícia ou outra autoridade adiantará, e muitos confrontos continuarão ocorrendo.

Sem demanda, não há comércio. Sem usuários, não há traficantes.

Tenho visto inúmeros críticos, que se mostram, ostensivamente, usuários ou apoiadores.

Vejo, inclusive, defensores da liberação das drogas. Alcool e fumo, liberados, já causam malefícios imensos na sociedade, e querem aumentar os vetores, ao invés de encontrar outros caminhos de erradicação desses males. Bizarros princípios de um mundo caótico!

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 28/09/2019
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