O dia em que aquele mundo acabou ...

De repente perdera o contato com tudo que o cercava. Tinha a exata sensação do fim mas não sabia com certeza. A lembrança era muito vaga de algo que havia acontecido, passado, porém não conseguia raciocinar, apenas sentir.

Ao mesmo tempo em que sentia medo sentia uma agradável sensação de proteção como nunca havia experimentado antes. Apesar da escuridão parecia que já havia estado neste mesmo lugar outras vezes. Fazia um esforço tremendo para tentar se lembrar de como tudo terminara porém era em vão. Sabia, tinha certeza , de que o mundo havia acabado mas quando ? De que forma ?

Estava só, conseguia respirar sem esforço parecendo que flutuava. A escuridão e a pouca mobilidade não deixavam que percebesse ao seu redor, só sabia que estava num lugar bem pequeno...

Se prestasse bastante atenção conseguiria ouvir alguns sons que não conseguia identificar. Às vezes sentia medo, outras raiva, outras carinho. Assim de graça , mas sentia sem saber porque. Até que as primeiras imagens começaram a se formar em sua mente.

No começo um pouco obscuras e aos poucos foram se definindo melhor.

Em um cenário de guerra via uma criança chorando sobre um cadáver de mãe.

Mais adiante dois homens se engalfinhavam disputando pelo que parecia ser uma sacola de dinheiro .

A devastação da terra era total. Corpos abandonados pelos campos, uns mutilados outros intactos porém andando como zumbis.

Conseguia ver nitidamente nestes seres a ganância, o ódio, a inveja e o desamor.

Pessoas que falavam a mesma língua e não se entendiam.

A natureza destruída e os homens irremediavelmente perdidos.

De repente começou a sentir uma estranha sensação de aperto, de compressão. O seu ambiente até então tranqüilo e sossegado começava a se agitar. Como se estivesse num calmo oceano e uma imensa tempestade começasse a se formar. Pela primeira vez sentiu medo. Medo do desconhecido.

E aquela pressão aumentando...Estava sendo comprimido, arrastado... A pressão em sua cabeça se tornou insuportável. O ar começou a faltar. Até que conseguiu num esforço extremo soltar todo o ar que tinha nos pulmões num choro convulsivo.

Agora com nitidez abriu os olhos e viu tudo de cabeça para baixo !

- É um menino! alguém falou enquanto o mantinha preso pelos pés. É um lindo menino como a vida que se renova e como a esperança de um mundo melhor ...