ENVELHECER É BÁRBARO

Não dá pra represar o tempo. Por mais que utilizemos artifícios fingindo que os anos passam só pra gente com menos pressa, temos que conviver com esse incansável caminhante rumo ao fim.

Por sinal, admitir esse fim, mesmo com tantas vozes em contrário que enaltecem uma possível eternidade, é confortante.

Assim dá pra saber que o jogo vai acabar um dia, que nossas cortinas vão baixar diante da plateia que fomos capazes de construir ao longo do trajeto.

Do alto dos meus 61 anos, consigo prever, num viés bem otimista, mais uns 25/30 anos de lenha a queimar.

Por um lado assusta reconhecer que a morte física não está tão distante, sensação que já provocou calafrios e que hoje dá pra levar numa boa.

Já por outro lado obriga a aproveitar esse final de jornada com maior cuidado, fazendo valer certos gostos que, agora, terão um peso bem maior.

Ficar mais próximo dos meus queridos, sejam eles humanos ou de 4 patas, está no topo dessa lista.

Fazer do trabalho uma coisa gostosa, lúdica e "do bem" é outra vertente, compartilhando com quem puder aquilo que pude aprender.

Ver tudo com olhos positivos também é acentuado nessa etapa do show.

Inclusive aquilo que dói fundo na alma, quando dá vontade de desistir de vez, passa a ser encarado como presente dos céus, encarnando um otimismo diuturno que não é da boca pra fora.

Por falar nos céus, entender que há algo maior e passar a admirar os pequenos detalhes da sua obra, sem ter a necessidade de atribuir um nome pra esse incansável criador, ou criadora, também tem feito parte do meu roteiro.

Buscar sempre pensamentos bons. E quando se mostrarem maus, não ignorá-los pra tentar entender sua raiz e o motivo de virem à tona.

Não fazer nada em certas horas da semana, atribuindo ao ócio seu lugar merecido.

Os cabelos brancos têm mostrado ônus no bônus e vice-versa, trazendo uma percepção que faz entender muitas coisas.

Sem contar que relevar e perdoar foram se tornando práticas cada vez mais presentes.

Dessa forma, sou capaz de estabelecer com meu envelhecimento uma relação fraterna, sem grandes turbulências, entendendo e respeitando suas regras sem esbravejar.

Se tem que ser, que seja na paz, na harmonia, na luz.

O resto é o resto. E nada mais.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 06/10/2019
Reeditado em 07/10/2019
Código do texto: T6762309
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