Contando a História - Parte II

05 / 07 / de um ano distante – 01:07:33 h

Minha internet desconecta. Demora pra voltar. Vou até a sala pego o gato e arrasto pro quarto (cansei de ficar só esta noite).

Pronto, conexão restabelecida. Peço desculpas, conto do problema, ele diz que rezou horrores pra que eu não tivesse saído devido à foto estranha que colocou, passo a dar risada sozinha.

Conto a história do gato. Sugere-me diversas formas de me livrar do bicho. Fica sabendo também que quero um cachorro, conta-me que quando casar quer ter um Terra Nova.

- Qual é seu signo?

Sou de gêmeos, já sei que é um aquariano (vi no site naquela tarde), demora pra cair sua ficha de como sei seu signo, no fim se acha bobo, diz que faz tantas coisas que esquece que disponibilizou detalhes seus em lugares que certamente eu veria.

Caio na risada, digo a ele que está me fazendo rir à 1 hora da manhã de uma terça feira. Pede desculpas:

- Ah não era a intenção rs.

Começa a contar como me achou na internet... (esse deve ter menos o que fazer que eu). Conta de seus textos publicados em um blog, abro de imediato e tento entender mais desse cara. Os textos são ótimos, a narração da vida de um solteiro.

Conta-me tudo o que faz (estava enganada, ele faz bem mais coisas que eu), conto a ele o que já fiz, pois atualmente não faço quase nada.

Diz novamente que tem de dormir (01:43:24 h), peço apenas pra responder-me uma pergunta:

- Qual a porcentagem de realidade nos textos que tu escreve?

- Ali a maioria é ficção, 95 %. Alguma coisa tiro de mim. Essa coisa de não dormir a noite é minha, de ir morar sozinho também e a do miojo também.

Conta que tem outros textos aos quais chama de “depressivos”, coisas que lhe aconteceram, desilusões com pessoas que conheceu, mas diz que não posta estes. No fim, (sinto até como se ele suspirasse ao digitar isso):

- Mas foram fases da vida. Acho que tudo é válido, é aprendizado.

Lembranças remotas me vem a mente e como numa tentativa de consolo falo que nada é pra sempre, nem o bem, nem o mal.

Lembro do horário, digo que vou deixa-lo dormir, senão depois me conta que teve um dia ruim e ficarei com remorso. Ele não quer ir, eu tão pouco.

A conversa continua. Falamos da chuva (minhas janelas estão abertas):

- Vai, corre, fecha tudo!!!!! Eu já disse pra você fechar as janelas a noite, mas você é teimosa, não me escuta!!!

Estou rindo novamente, peço desculpas por ser uma geminiana teimosa e prometo que vou melhorar. Olho pra esquerda, no espelho estou, mais uma vez, com um sorriso no rosto.

Ele aparece com nossas combinações astrais. Meu Deus parece que ninguém no universo acredita que um aquariano possa ter um relacionamento amoroso com uma geminiana. Ele fica bravo, diz que vai processar os sites por destruírem nossos sonhos de termos um contato amoroso. Não satisfeito, vasculha diversos outros sites, acha essa previsão:

“Aquário e Gêmeos O que mais importa para vocês é o encontro de duas almas, que se amam e se entendem em todos os sentidos. Ambos com suas afinidades caminharão para a felicidade. Vocês adoram a liberdade, são comunicativos e criativos. São bons companheiros com características que afastam as aventuras. Na vida íntima, vocês são capazes de atingir a plenitude sem enxergar o sexo como a coisa mais importante”.

- Viu, somos feitos um para o outro!

Fico feliz com o comentário...

Trocamos contato em outro site de amizade, começo a vasculhar suas informações, reclamo da quantidade de mulheres adicionadas, me responde com um “Ah meu Deus!!!”.

Vejo no site que tem como preferida uma das músicas que também mais gosto “3 x 4” dos Engenheiros. Cantarolo um pedaço. Acaba dizendo que tem uma outra música que adora, quer saber se conheço: “Poema” do Ney Matogrosso.

“Eu acordei e procurei no escuro alguém com seu carinho e lembrei de um tempo. Porque o passado me trás uma lembrança do tempo que eu era criança, que o medo era motivo de choro, desculpa pra um abraço, um consolo”.

Não lembro pela letra, ele tenta me mandar, fico com remorso, pois vou atrasar ainda mais seu sono, diz apenas:

- Meia hora a menos, meia hora a mais. A vida é feita de momentos, não podemos deixar escapar pelos dedos. Aceito?

Claro que aceito! Minha noite tomou outro rumo desde daquele “você está apaixonada?”.

Enquanto a música é enviada, diz que quer saber mais de mim. Conto que gosto de qualquer coisa quando estou com meus amigos, desde ir a um posto deprimente tomar cerveja até encarar baladas. Então confesso que o que gosto mesmo é de uma rodinha de amigos em um boteco com muita Skol gelada e adoro jogar bilhar (pronto vai me achar uma bêbada e botequeira...). Ele apenas dá risada.

A conversa vai pra outro lado, quer saber se eu sou romântica, fico mirando o espelho e perguntando “eu sou romântica?”. Acabo respondendo que já fui mais. Ele pergunta se já sofri por amor. Concluímos que já quebramos tanto a cara que vivemos com um pé atrás.

Quer saber agora se eu já amei de verdade. Já, já amei e já fui amada. Conto do fim do meu último relacionamento (amor de 3 anos de namoro e 1 de noivado, que a distância se encarregou de transformar em amizade jogando um pra cada lado, mas sem rancor).

- Deus sabe o que faz! – ele me diz.

Dessa vez eu que questiono seus gostos.

- Bem, vejamos. Gosto de sair meio sem destino. De conversar, de sorrir, de andar de mãos dadas. Ah gosto das coisas simples da vida.

Conta que se acha frustrado, porque sempre procurou um amor, alguém que pudesse ser sua amiga, alguém pra vida inteira, pra dar risada juntos e andar de mãos dadas, mas que nunca teve isso. Conta que já namorou sério uma vez apenas, 5 meses, e tudo acabou da pior forma possível.

Continuamos as explanações do relacionamento que nos seria perfeito: sem muitas loucuras de amor, mas com pequenos detalhes de afeição – bilhetinhos com “eu te amo” escondido nos bolsos pra achar depois, chimarrão de tarde na grama num dia frio, mas ensolarado... Coisas assim.

Ele me faz lembrar de vários sentimentos que por esses dias tentei sufocar e agora vêm a tona feito uma enxurrada de mágoas e dúvidas, me pede desculpas por isso, mas não há o que desculpar. Temos medo de nos tornarmos pessoas frias após tantas decepções. Mas a vontade de constituir família, ter um grande amor, filhos, uma casa é maior que qualquer medo (as vontades são as mesmas!!).

O download da música termina (sou mesmo uma toupeira, já a ouvi dezenas de vezes!!! E é mesmo linda).

De repente diz:

- Você me fez sonhar novamente, fazia tempo que eu não sentia isso. Obrigado pela noite.

Entendo isso como uma despedida, também o agradeço (do fundo do meu coração, estou realmente mais feliz depois dessa conversa).

Ele enfim vai dormir, restam apenas 1 hora e 48 minutos até que tenha que levantar.

Desejos de boa noite, recomendações de muito café quando levantar (fico preocupada, ele vai pegar a estrada sem ter dormido direito). Por fim, ele me diz:

- Um beijo, até amanhã.

Kari Capraro
Enviado por Kari Capraro em 05/11/2005
Código do texto: T67635