E de repente a fila pode esperar, o dia fica curto e vamos tentando laçar as oportunidades, como se fossem (todas elas), um buquê para a solteira desejosa de um lar.
E você olha com carinho para aquela enfermeira que diante do ofício de cuidar, deixa uma lágrima correr a face e por receio de ser mal interpretada ao sentir, se esquiva rapidamente para a lavanderia, carregando aquele olhar pralisado de um homem que em vida deu tudo de si para o trabalho, mas está agora amargando uma doença degenerativa que rouba dos alimentos que deveriam saciá-lo, todos os nutrientes e, na cama entre pele e osso, clama por socorro à hora da morte. Todo o império construído nos últimos 50 anos não tiraram dele a dor de ser abandonado num hospital psiquiátrico, onde recebe apenas a visita de um irmão, de mês em mês, para acariciar a sua face e dizer que o ama.
Ou quem sabe aquela outra que soluça na cozinha, bem no cantinho do chá, sentada ao chão, após assistir a um paciente que em fase terminal por um câncer no intestino que como metástase invadiu cada canto do seu corpo e se alojou como e fosse prag, teve em seu plantão, e como último pedido, antes da morte, um pedido de um hamburguer, alimento que se privou durante anos por considerar maléfico, mas lá, como última refeição, mesmo inapropiada, era o que queria. E ela, na dor, repetia enquanto ele nao pode milhões de pessoas reclamam, diariamente, do alimento que as sacia.
Não dá pra passar ileso, a duas cenas tão dolorosas, sem se colocar no lugr de cada um.
Tem um psicólogo (padre também) que conheço desde a primeira infância que sempre diz que as paredes do hospital são a igreja viva renovada. Porque lá, as pessoas se despem das máscaras e diante da vulnerabilidade se reconhecem como pó, não há bem material que restitua a saúde, pode pagar o conforto talvez, para uma morte humanizada (se é possível).
Reclamo da vida, sinceramente. Quem nunca o fez? Mas diante da impropriedade do objeto, fico acenando com a alma para essas mullheres que conheci e vieram trazer uma espécie de "dejavu" que faz arder em forma de inquisição: “reclama do que?”
É, pra mim que vivo dizendo que a vida é corrida, que não tenho tempo, que sou ocupada e a carga anda pesada, sentada nesse banco de visitas, só consigo enxergar o meu fim, e esperar que dê tempo de tomar um sorvete num fim de tarde, sem peso. Porque a vida, de fato, passa rápido... Aprendi mais no banco que nos livros, confesso. E por quantos bancos já passei... 

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 07/10/2019
Reeditado em 07/10/2019
Código do texto: T6763648
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