Um amontoado de sentimentos postos pra secar no varal da vida seria uma síntese louvável. Enquanto o vento vai balançando para retirar o excesso de água, sempre haverá um observador externo que dedicará seu precioso tempo para criar uma tese sobre os tecidos que sacodem, emitindo talvez, uma opinião fria e calculista, como se os “panos de prato” encardidos fossem mal lavados. O olhar de fora, por vezes, é tão cruel quanto retirar os pregadores que seguram as peças, impedindo assim, que sejam carregadas pelo vento, e que caiam em terrenos alheios e sejam pisadas, não valorizadas. Veio à memória uma senhora que me carregou no colo, que dizia que o seu varal era feito de ferro pra não correr o risco de romper e ter que lavar tudo de novo, mas vez ou outra, suas vestes eram manchadas pela corrosão do material, e ela permanecia com aquela prática, mesmo tendo dito a ela que mais fácil seria lavar se caíssem ao chão que com ferrugens, mas ela nunca se deu a oportunidade de pensar, queria manter aquela ideia fixa trazida pelos avós, em suas limitadas visões (não propositalmente) ancoradas na repetição dos ascendentes. Enquanto isso, na lavanderia do prédio, vejo as meninas que fazem do ofício um serviço (ajudantes), pendurando as roupas por cores, por tipo, por gênero. - Nem sombra do que é o martírio - disse Meire. Da porta da lavanderia um olhar 007 a intimidava (a patroa com TOC), ela calmamente termina o trabalho e ao se despedir diz ao pé do ouvido da companheira: - Tem gente que separa no varal pra dar conta de juntar na vida. Fomos salvos pela constituição! E dizem que roupa suja se lava em casa. Será?

* TOC: Transtorno Obssessivo Compulsivo
(crônica lírica)
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 09/10/2019
Reeditado em 09/10/2019
Código do texto: T6765147
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