aquela que sequer tentou desamar.

Alguns dias sou aquela que jamais vai desistir do brasil. E também aquela que nunca desistiu de “nós”. Obviamente, que esse “não desistir” não se enquadra ao brasil do óleo na praia, do plástico e da censura camuflada. E nós, bem, o “nós” aqui, é no sentido do plural mesmo, com tudo que ele significa. Tanto da gente, quanto daquilo que (nos) amarra.

Eu adoraria dizer que nesse tempo eu andei produzindo coisas para o meu livro, mas eu não fiz isso. Eu andei por aí. Visitei amigos, molhei meus pés no mar, partilhei bons drinks, meditei na natureza, chorei de saudade, assisti Coringa. Que aliás, me tomou de uma compaixão absurda. O quão carente estamos de uma voz que nos represente, de políticas sociais que nos abrigue ou o quanto estamos fartos dos ratos que saem dos esgotos exalando a podridão de uma sociedade doente, para que a popularidade do vilão tenha tamanha ascensão? Eu disse vilão? Eu me emocionei no cinema. Compreendi. Saí humana, politizada e com o coração pesado – coisa que parece ser comum quando se tem duas primeiras.

Alguns dias eu sou aquela que sequer tentou desamar. Não eu não vou embora. Pelo contrário, vou para a capital, depois vou para o Pará, vou para a Amazônia. Eu vou pra Maracangalha, eu vou. Quero é recompensar todo tempo de vida em que não vivi meus conterrâneos. Que não vivi você e a camisa do Flamengo, do santos, do Londrina. E aqui escrevo com o coração: eu quero nós sem nós. Eu quero o meu país... meus jogos de palavras, a gramática, a língua e todas as letras do Chico, Belchior e Caetano.

Eu quero laços!

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#TextosDeQuinta

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 17/10/2019
Reeditado em 17/10/2019
Código do texto: T6771767
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