TRISTE SINA DE TININHO (crônica da cidade)
 
A TRISTE SINA DE TININHO (crônica da cidade)

Dona Cinira, mãe solteira, lavava roupa pra fora e vivia em uma miserável habitação de um cômodo e cozinha, no mais longínquo lugar da cidade. Seu único filho, de nome Aristides e apelido tininho era tudo o que ela possuía. Mas como cria-lo decentemente se ficava o dia fora, no trabalho. O jeito era pedir pra vizinha, Dona Ciça, que cuidasse do menino. A mamadeira, rala pela adição de água, ficava ao lado da cama, ou seja um pequeno estrado sobre quatro blocos de cimento. Ciça cuidou enquanto pode, o que obrigou Dª Cinira a procurar uma creche mais ou menos dois quilómetros de sua casa, a única existente, embora se soubesse que era um foco de piolhos; por essa razão, por precaução, cortou-se o cabelo de tininho com máquina zero. Assim seguia a vida, mas Dª Cinira amava o filho, à sua maneira é certo, contudo sempre dizia ao menino que acontecesse o que acontecesse ela sempre estaria, em espírito, ao lado do filho para fazer o melhor que pudesse em favor dele. O tempo passou, tininho enveredou para o mundo das infrações, das condutas antissociais e daí para as drogas e crimes. Dª Cinira perdeu o contato com o filho, mas nada podia fazer porque não podia deixar de ser lavadeira, apesar de muito doente, com o passar dos anos. Na sua humildade, sem instrução, porém dedicada ao trabalho permanecia com a imagem do filho na consciência e nas orações fervorosas. Para ela tudo estava nas mãos de Deus em quem confiava com fé, mesmo porque não tinha ninguém. Certo dia, tininho então com 18 anos, no trajeto de um ônibus ocupava o último banco. Abruptamente levantou-se com uma arma na mão e gritou – É um assalto. Celulares nas mãos e sem movimento se não eu mato todo mundo. Alvoroço, desmaios, choros e um estampido se fez ouvir. O pânico aumentou, entretanto, o disparo chamou a atenção de um policial que já deixava o coletivo e teve tempo de solicitar reforços. Várias viaturas se posicionaram. Tininho passou as mãos no pescoço de uma passageira e, com a arma na mão, gritou: - Eu mato a moça se alguém fizer qualquer movimento. Mato mesmo. Por isso não tentem nada. Os policiais de fora ouviram, porque a porta do motorista estava aberta. Tentou-se negociação, mas tudo em vão, tininho estava determinado e poderia matar mesmo. Um policial, atirador de elite, posicionou-se em uma laje, na garagem de uma casa, defronte ao ônibus e assumiu posição de tiro. Esperou o momento certo, mas não acontecia. Nesse momento tininho disse à mulher que estava sendo sufocada, pelo aperto do braço em torno do pescoço: - Abra a bolsa e me entregue o celular que eu quero ligar para a imprensa! A bolsa foi aberta, com dificuldade, e, em seu interior, estava o celular e uma lata de leite pequena. Tininho perguntou o que continha a lata e a assustada moça respondeu que era o único alimento para seu filho, que estava em casa. Se morresse o filho também morreria. Tininho, sentiu algo inexplicável, refletiu rapidamente e naturalmente soltou a moça com o que houve o disparo do atirador de elite e tininho tombou moribundo. A moça ajoelhou-se e ouviu do tininho o seguinte: - Mãe onde está você, me ajude por favor! Dª Cinira, sem saber porque, sentiu um frio na espinha, lembrou do filho e levou o pensamento a Deus.......mas nada pode fazer.
aclibes
Enviado por aclibes em 17/10/2019
Código do texto: T6771879
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