Outubro
Na porta da sala havia o terreiro. Lugar de tantas coisas.
Secar café apanhado maduro, bater o feijão, limpar o arroz. Era tudo ali, um amplo altar para a liturgia da faina rural. Meu pai, o sacerdote; eu, o assistente.
Ele colocou dois troncos de macaúba grandes margeando o terreiro, formando um L.
Ali chutei minhas bolas; era meu estádio imaginário. Naquele terreiro pulei em poças de água e também manobrei o fusca pela primeira vez.
No fim do dia, em tardes de outubro como a de agora, eu ia até o terreiro para ver a noite cair. As cigarras cantando em uníssono, alternando com o silêncio de roça. Este, mais que ausência de som: um puro estado cósmico.
Da banda direita do terreiro, entrando pelas ruas de pés de café, a cerca e a paisagem. A serra do Carmo, o campo de bola da Boa Vista, a casa do Belarmino. À esquerda, a serra de Furnas e seu incrível mistério.
Em toda a minha existência posterior o que fiz foi buscar o que havia atrás daquela serra.
Terreiro dos meus encantos, serra da minha vida.