A MINHA PRIMEIRA CANETA AZUL
POR JOEL MARINHO

Eu entendo o choro desesperado de um “cantor” anônimo que de uma hora para outra se tornou astro no Brasil com a tal caneta azul perdida. A música e a voz relembra um choro a qual me identifiquei.
Eis que minha memória foi ativada e “viajou” até um momento da minha infância, me lembrei de detalhes da minha primeira caneta azul. As lágrimas insistiram em querer cair e então fiquei a me perguntar:
- Será que tanta gente pobre se identificou tanto com a música o quanto eu quando comprei minha primeira caneta azul?
Talvez não queira saber como foi, e eu podia deixar essas lembranças esquecidas e bem guardadas apenas comigo, porém vou contar como se deu, caso não queira ler o resto fique apenas nesse começo mesmo, vou entender você, afinal, qual seria a sua identificação com o meu problema de quase miséria infantil?
Pois bem, quando eu comecei estudar meu pai quase sem nenhuma condições, trabalhando na roça para dar conta de seis barrigudinhos nunca pode me dar um caderno e uma caneta, no máximo comprava papel de prova (papel almaço), um lápis para durar seis meses com uma borracha na “cabeça” do mesmo o qual furava com o tempo. Às vezes usava aquela borracha do conta gotas (a época de vidro com a cabeça de borracha), porém mais manchava o papel que apagava as letras.
Quando meu pai chegava com dez páginas de papel a minha mãe dividia em dois, cinco para mim e cinco para meu irmão. Então ela cortava em quatro partes e depois pacientemente costurava fazendo uma espécie de caderno artesanal e lá eu ia para a escola feliz da vida.
Via alguns colegas da minha idade já usando caneta e eu ficava sonhando com aquelas canetas azuis, preta, vermelha e verde, porém nunca dava para ter uma. E aquelas coloridas de quatro cores...ah...quanto sonho eu tinha em ter uma.
Certo dia minha tia pediu para eu ajudar ela fazer uma farinha de mandioca. Para quem não conhece e não sabe o processo era da seguinte forma: colocava a mandioca na água e depois de sete dias quando ela amolecia tirava da água, espremia em tipiti, penerava e levava ao forno para transformar em farinha muito conhecido na região norte.
No final minha tia foi a cidade e quando voltou me trouxe um caderno de quatro matéria, uma caneta azul e outra vermelha e me deu como forma de pagamento.
Enfim tive minha primeira caneta azul a qual junto com o caderno e a caneta vermelha dormi aquela noite abraçado a eles como se fosse um troféu. Para minha “sorte” eu não perdi minha caneta azul nem ninguém me roubou, seria capaz de esganar quem a pegasse.
DESSA FORMA ME IDENTIFIQUEI DEMAIS COM A CANETA AZUL E DIGO: - Eu entendo o teu desespero, meu amigo cantor! EU teria ficado assim ou pior caso tivesse perdido minha caneta azul.
Hoje talvez pelos traumas da vida eu tenho uma coleção de canetas azuis e coloridas.