A VELHA CASA DO MEU PAI

Aquele edifício que agora ocupa o espaço que pertencia a velha casa do meu pai não apaga as imagens que ainda pulsam nas veias da minha alma com muita intensidade.

Ainda vejo as árvores frutíferas, a pequena horta com seus alfaces e rabanetes. A parreira que ficava rente a janela do meu quarto onde eu sentado saboreava as deliciosas uvas “Moscatel.”

Quando voltava do colégio, movido por uma extraordinária sensação de liberdade, ficava correndo em volta da casa perseguido pelo meu saudoso e querido cachorro “Totó.”

Existia também o incrível gato “Especial”, nome justificado porque ele só falava quando alguém de casa fizesse uma pergunta de maneira que ele respondesse afirmativamente

. Por exemplo:

“- Tu és bonito não é Especial?"

Ele respondia com um miado que parecia que estava dizendo:

“É.”

Aos domingos todos os netos (meus sobrinhos) iam visitar os meus pais. Isso era uma atitude quase sagrada.

Quando adulto, voltando da boemia, encontrava o velho tomando o café da manhã. Ele com seu humor irônico me dizia:

“- Chegaste cedo hein?”

Quando ele ficou viúvo eu ia todas as manhãs tomar chimarrão com ele.

Ele lendo o jornal não falava comigo.

Eu, como era de pouca fala, também nada dizia.

Lá pelas tantas, talvez cansado do silêncio, o velho me disse:

“- Vamos mudar de assunto?”

Gilberto Stone
Enviado por Gilberto Stone em 28/10/2019
Reeditado em 29/10/2019
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