platônico.

Era uma tarde de novembro chuvosa. Quando ele saiu de casa, pôde sentir uma sensação de nostalgia que tomava aquele clima. Ele apertou o passo e seguiu em direção ao seu café predileto. Eram cinco quarteirões que ele prezava muito caminhar. Como se fosse uma rotina, um dever. Passou então pelo açougueiro que estava fechando e um olá tímido por causa do frio saiu de sua boca. Passou pela floricultura da dona Maria, que esta tarde estava sem nenhuma flor na calçada – a senhora encontrava-se do lado de dentro tomando seu chá de canela com biscoitos de goiabada. Passou pela máquina de jornal, onde depositou uma moeda de cinquenta centavos e retirou o jornal do dia, onde ele não tinha nenhuma pretensão de ler e sim usar para lhe proteger da chuva. Passou pelo campo de futebol de areia, onde as crianças estavam animadíssimas jogando uma partida e pisando em poças d’água – ele sorriu ao lembrar que fizera muito isso quando tinha a idade dos menores. Passou então pelo bar do seu Zé, onde estava sendo transmitida uma partida de futebol e todos os presentes ali gritavam e comemoravam. Quando finalmente chegou onde queria – no Café da Margot – ele pôde sentir o aconchego do local. Seu lugar já estava à sua espera – uma pequena mesa aos fundos – onde de dentro da mochila que carregava, tirou seu laptop e começou a escrever. Foi quando ela o chamou pela terceira vez.

- O mesmo de sempre? – sua voz era doce como a de um anjo e trazia uma sensação de paz no peito dele.

Ele pigarreou. – Café extra-forte, duplo p-por fa-a-avor. - Era sempre assim. Ele não conseguia manter-se concentrado quando ela estava por perto e sempre gaguejava.

Ela então anotou o seu pedido, sempre com um sorriso no rosto e retirou-se.

Ele ajeitou seu óculos, e com os dedos apostos voltou a escrever a história de um professor tímido que sempre as seis da tarde percorria cinco quarteirões para tomar um café e se apaixonar mais uma vez pela meiga garçonete que lá trabalhava.

Já durará três anos.