A difícil tarefa de evoluir (Um desabafo)

Evoluir dói! Dói porque exige que desapeguemos de coisas e pessoas que marcaram e marcam profundamente a nossa vida. A evolução é um processo inexorável que a Vida utiliza para nos fazer aprender as lições que temos, e elas são repetidas quantas vezes forem necessárias. A grande pena é que quase sempre aprendemos e evoluímos pela Dor, pois somos teimosos e temos a tendência de nos acharmos senhores da razão e da emoção; quando na verdade precisávamos reconhecer que somos ínfima parte, diminuto grão de areia na imensidão infinita que é o Universo criado por Deus.

Em todas as etapas do evoluir, é impossível sair ileso ou não ferir alguém por todas as vidas e situações nas quais entramos, por convite ou não. Porém, como nada é por acaso na Existência, tudo faz parte de um enorme e eterno aprendizado, quase sempre doloroso.

Vejo o processo evolutivo como algo parecido com o cumprir missões ou saldar dívidas que adquirimos no decorrer de nossas encarnações neste e noutros planos e orbes. A grande dificuldade é nunca sabermos o real tamanho da dívida ou da missão, pois essas informações são “apagadas” do nosso Consciente a cada vez que somos chamados ao trabalho na Vida Terrena. Ficam elas registradas numa parte do nosso Inconsciente à qual não temos tão fácil acesso. Decisão sábia da Espiritualidade, pois poderíamos nos achar o suprassumo dos missionários e cairmos no erro da arrogância e prepotência ou, por outro lado, poderíamos desistir de viver por termos a certeza de que somos devedores de uma dívida impagável. O que nos esquecemos é de que a balança da Justiça Divina não pende para um lado ou outro, ela nos atribui aquilo que realmente merecemos receber. Isso, para nós, meros espíritos em experiência terrena, é por vezes incompreensível.

O primeiro, e talvez mais difícil, passo talvez seja reconhecer-nos como seres em construção e, como tal, ter a consciência de que os tijolos de que somos feitos são postos por nós e por todos que se relacionam conosco. Por conseguinte, é importante aceitar que o ato de construir, seja lá o que for, provoca acidentes, cujas marcas podem ser indeléveis ou sumir com o tempo. As cicatrizes que ficam no corpo físico somem com o tempo ou desaparecem na memória. Todavia, aquelas que marcam a alma são carregadas por algumas existências e é com essas últimas que devemos nos preocupar prioritariamente.

Como apagar essas marcas de nossas almas? Perdoando a si e aos outros e pedindo perdão também, mas tudo feito de forma verdadeira, mesmo que a dor percorra nosso ser em todos os níveis, do físico ao átmico. Esse ato é um facilitador para que as mágoas se desfaçam e nos deixem mais leves para prosseguir a caminhada que é viver. Claro, óbvio, nítido que não é fácil, porém extremamente necessário. Desapego e aceitação, eis duas das mais árduas tarefas que nos impõe o Criador para que possamos evoluir conforme Sua vontade e não como quer o nosso desejo.

O Amor é, indubitavelmente, o nosso maior aliado nos caminhos e descaminhos que a Vida apresenta para nós, cheios de encontros, desencontros e reencontros. Infelizmente, muitas das vezes, o machucamos e também àqueles que nos amam. Conscientemente? Inconscientemente? De ambas as formas? Sinceramente não sei. Às vezes ele está ao nosso lado por anos a fio e só o reconhecemos de verdade quando já sucumbiu ou está por sucumbir ao cansaço de tantas lutas pouco reconhecidas. Nesse caso, quase nada há o que fazer, pois não devemos e não podemos querer que o outro esteja à nossa disposição a totalidade do tempo. Erros, mesmo que perdoados e/ou corrigidos, trazem consigo consequências que precisam ser aceitas para que o viajar pela Vida não seja travado com ainda mais dor e sofrimento. Isso também vale para a Amizade, complemento indispensável do Amor.

Como é difícil carregar o pesado fardo de ser o responsável pelo sofrimento de alguém, causando-lhe decepção e inconformismo! Não é justo com aqueles que nos tinham em estima e confiança, espelhos que, quando se quebram, jamais voltam à sua forma original, mesmo que habilmente reconstruídos. Entretanto, culpar-se e ficar remoendo a culpa pelos próprios erros, só atrasa ainda mais a evolução de cada ser. É imprescindível que nos livremos de tão desnecessário fardo. A admissão da culpa, o reconhecimento do erro e a aceitação das reações advindas disso, já estão de bom tamanho, além, claro, da intenção e luta em não mais escorregar nas próprias fragilidades. Autopunição não tira a dor ou a culpa, muito pelo contrário.

Por mais que amemos ou queiramos bem a alguém não temos o direito de impedir que vivencie as próprias experiências a fim de que evolua. É o livre arbítrio e não se deve interferir no do outro, sob pena de trazer para si aquilo que ao outro compete. Afinal, não somos proprietários de ninguém. O Amor não é pássaro que se aprisiona em gaiola. Aliás, o Amor é pássaro sim, e como tal deve viver livre e ser tão bem tratado que jamais queira ir embora. Mas como é difícil para a nossa frágil humanidade compreender isso.

Não! Não somos perfeitos! Claro que não! Pois se assim não fosse, não haveria razão de estarmos aqui. No entanto, é nossa obrigação, enquanto seres conscientes ou em busca da Consciência, fazer com que nossas imperfeições não sejam nossos e alheios cadafalsos, patíbulos onde esperam algozes cruéis para puxar a corda da forca ou descer o facão da guilhotina.

Reconheço-me humano, falho, imperfeito, consciente dos erros e suas consequências e por isso mesmo peço perdão a todos a quem provoquei qualquer tipo de mágoa, dor, decepção ou qualquer coisa do gênero. E que este pedido de perdão reverbere em todas as minhas passagens por este orbe e por outros. Quem sabe assim, possa eu continuar buscando o auto perdão e, à medida que for quitando as minhas dívidas cármicas, também descobrir a que vim nesta vida.

Cícero – 02-11-19

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 02/11/2019
Reeditado em 02/11/2019
Código do texto: T6785427
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