essa crônica não tem título

O assento era desconfortável e todos pareciam não ligar para isso. Estavam preocupados em comer seus lanches ou beijar muito na boca. Eu me perguntava, enquanto tomava um gole da minha limonada, o porquê dos jovens acharem que cinema era lugar para ficar se beijando, como se fosse um local secreto entre eles para satisfazerem suas vontades que, nesta idade, estava aflorada. Mas eu não os culpava. Quem nunca fizera o mesmo?

De canto de olho, dei uma leve observada nas poltronas atrás de mim. Um casal de jovens se beijando freneticamente derrubando suas pipocas pelo chão. O garoto pegava nos seios da menina com intenção – creio eu – de estimular o prazer, mas visto de fora mais parecia que ele estava machucando ela. O que deixava tudo mais cômico.

Um pouco mais atrás deles, quase nas ultimas poltronas, pude observar uma senhora. Aparentava estar na casa dos sessenta anos – calos brancos, lisos, pele clara e enrugada. Ela chorava, e eu não entendia o porquê, afinal, estávamos ainda vendo os trailers dos filmes. Mas, logo percebi que talvez, estar ali sozinha deveria significar algo para ela. Foi nesse momento que percebi que estava também emotivo.

Virei-me para frente, e fui surpreendido com a claridade da enorme tela a minha frente. Enxuguei as finas lagrimas que insistiam em cair. Tomei um gole da limonada, que a essa altura já estava ficando quente.

O filme começara. E eu tentaria o máximo prestar a atenção nele, o que seria impossível com todas essas histórias reais que só uma sala de cinema poderia acolher.

Eriberto Andrade
Enviado por Eriberto Andrade em 06/11/2019
Reeditado em 06/11/2019
Código do texto: T6788541
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