EU, FERNANDO SABINO E A TRISTEZA

Algumas pessoas quando se entristecem procuram diversas maneiras de espairecer, tais como viajar, nadar, dançar, escalar uma montanha, etc., já eu vou à Biblioteca Municipal.

E espero que esta confissão não passe uma imagem minha de pessoa pedante, pretensa à intelectual ortodoxa. Mas é para lá que eu vou. O ambiente me acalma e equilibra. E embora não seja mais tão “rata de biblioteca” como costumava ser, estar lar assemelha-se a uma volta para casa, ao reencontro do meu núcleo real.

E caminhando por entre as prateleiras vou esbarrando nos meus amigos antigos, nos mais recentes e naqueles que namoro à distância e prometo mentalmente que ainda os lerei.

Recentemente estava precisando desse passeio à biblioteca, porque não havia mais nada que pudesse centralizar os meus caminhos. E passeando pelos corredores, lendo os títulos das prateleiras, observei e me corrijam se estiver enganada, que parece que hoje em dia não se escolhe tanto os clássicos como ferramenta literária para os alunos do ensino médio.

Na minha época tínhamos que ler autores como José de Alencar, Joaquim Manual Macedo, Machado de Assis, e etc. E apesar de algumas vezes torcermos o nariz _ confesso que raramente eu torcia, até porque os livros eram a minha onda_, era de suma importância aquele primeiro contato.

Depois vieram as edições chamadas “Para gostar de ler” que reuniam Rubem Braga, Carlos Drummond e Andrade, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino. Foi o meu primeiro contato com as crônicas e com esses autores e só posso afirmar que era um deleite.

E notei que já aconteceu de tomar emprestados livros para meu sobrinho de 13 anos como exigência para a escola e nenhum foi desses autores citados. Fiquei surpresa e posso afirmar que ignoro a metodologia pedagógica atual; portanto posso estar dizendo um monte de sandices aqui, mas que a literatura clássica nacional deve ser estimulada, isso é inegável.

Divagando entre as prateleiras vi que Dostoievski ainda está lá, a coleção inteira de Proust, e Clarice Lispector acena com todas as suas obras que ainda almejo finalizar. E nessas andanças e divagações, topei, como se diz em Minas, com meu amigo querido Fernando Sabino.

Havia tempos que não o lia, desde a sua morte em 2004. Eu sofria de certo bloqueio sentimental e achei que seria sofrido demais voltar a lê-lo sabendo que ele não está mais aqui. Coisas de uma insana e fanática leitora. Mas enfim, namorando seus livros, encontrei um que achava que não havia lido ainda, chamava-se “A falta que ela me faz” e na hora sorri intimamente fazendo um trocadilho mental que na realidade era “a falta que ele, Sabino, me faz”. E pegando um, pegando outro e folheando alguns, percebi que meu coração foi se enchendo de alegria, sorrisos bobos e conforto necessário.

De repente achei uma daquelas edições que além de interessante, tinha cheirinho de livro antigo com sabor de adolescência. Pronto, peguei o livro, coloquei junto ao coração e sai totalmente consolada da biblioteca. Fomos embora, eu, Fernando Sabino e a tristeza.

Angela Gasparetto
Enviado por Angela Gasparetto em 23/11/2019
Reeditado em 10/12/2019
Código do texto: T6802161
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