BRONQUITE ASMÁTICA - MEMÓRIAS PARA NÃO LER (nem lembrar)

Um dia, há muitos anos atrás, eu entrei na vida e no corpo de um menininho. Como fui feliz naqueles tempos. Eu fiquei forte e proporcionava crises nele que quase o matava. A mãe e o pai dele não gostavam de mim, a ponto de me darem muito veneno, para me matar... e eu quase morri. Lembro que davam para ele oxigênio, injeções, pomadas e ainda o levavam para o hospital, somente para acabar com a minha existência.

Naquela época eu ainda não sabia, mas agora já sei que eles gostavam mais do menininho do que de mim, por isso queriam me matar.

Mas o tempo foi passando e o garotinho foi crescendo forte e saudável, e o mais incrível, até praticava esportes, coisa que para mim é o decreto de minha morte.

Mas como tudo na vida tem fases, começo a vislumbrar novamente, a possibilidade de voltar a ser forte como antigamente.

O tempo passou e o garotinho agora já é um homem. O pai e a mãe dele não mandam mais nele, ele só faz o que quer e o que acha bonito os amigos de infância fazerem e, até vive dizendo: - “eu faço o que eu quizer...”; “eu é que sei”.

Por ser muito vaidoso ele começou a me dar um remédio para eu ser forte novamente, uma tal de Nicotina, que eu recebo quando ele, de vez em quando, por influência do meu amigo álcool e pela sua vaidade, quando ele fuma alguns cigarros.

Agora, depois de tudo que eu passei, por causa dos pais dele, tenho certeza de uma coisa: se ele continuar a me alimentar com a Nicotina, um dia voltarei a ser forte como naqueles tempos da sua infância. Aí, vou mostrar para os pais dele quem é que mata quem. Ainda quero ver aqueles dois velhos chorando quando eu vencer o filho querido deles, porque eu nunca morro. Sou uma doença que fica adormecida no corpo de uma pessoa forte a vida toda, mas se ela me proporcionar uma chance, eu acordo, fico forte novamente, e um dia, nem que leve setenta anos, mostro para todo mundo quem é o mais forte.

Sinceramente espero que o garoto de quem falo, nunca venha a ler estas memórias, pois posso correr o risco dele mudar de idéia e me condenar a não mais fazer parte da sua vida e do final da sua história.

Há, se você não sabe quem eu sou, vou me apresentar: - muito prazer, eu sou a Bronquite Asmática, que na fase adulta, depois de desenvolvida e forte, os médicos chamam de Enfisema Pulmonar.