Idade

No coletivo, uma senhora de idade avançada pede licença e ajuda para sentar ao mesmo tempo em que resmunga de dor grunindo ao se sentar. Eu solto um sorriso de neto e de compaixão, mas logo sigo o meu destino individual.

Logo ela pergunta se eu tenho uma avó e eu tendo, respondo que sim e não contente ela com muito orgulho diz:

- Já passei da barreira dos oitenta e me sinto mais viva do que nunca!

Parabenizei-a meio envergonhado e mais insatisfeita, ela diz:

- Viver é bom demais, né não? Tenho oitenta e uns bocados, mas na minha cabeça eu tenho vinte.

E enquanto ela esperava a minha resposta, eu travei. Pensei nas quantas vezes eu pensei que viver não era tão bom quanto ela falava. Será que eu estaria velho e ela com os meus vinte e cinco anos? Ou será que envelhecer não seria tão interessante mais por isso que ela tinha dito aquilo? E por que eu por tantas vezes não achei tão bom viver, se ela que não tem a minha juventude acha que a vida é tão boa assim? O silêncio me consome a tal ponto de eu não ouvir nem ver dois marginais pular a catraca do ônibus.

A senhora de oitenta anos envelheceu nesse momento e ficou muito séria. Pediu parada bem antes do ponto que ela iria ficar e com a ajuda de outras pessoas do coletivo, ela olha pra trás e acena pra mim com a mão jovial e eu a retribuo com um sorriso de neto e a mão velha.