Corrida de Forrest Gump: Uma analogia

Sempre que me perguntam – Andréa, por que você saiu de seu último emprego, tão logo após ter conquistado uma promoção? – eu lembro da famosa cena de Forrest Gump (filme espetacular, estrelado por Tom Hanks) quando ele decide correr os Estados Unidos inteiro, assim... do nada!

Certas vezes, parece-me que tomamos dadas decisões que nos fazem “correr no automático” sem razão alguma. No meu caso, tinha que fazer jus a todos anos de escola particular pagos por minha família, prosperando tanto nos estudos quanto nas empresas as quais me dediquei.

Sempre fui aquele tipinho “que vestia a camisa” e pleiteava os melhores cargos, os melhores resultados e sempre me fazia “pau pra toda obra”. Vivia pro trabalho e hoje tenho orgulho de tudo o que realizei.

Porém, quando subi ao mais alto cargo executivo, em minha ultima empresa, fazendo mérito a todas graduações e especializações que eu tenho (Gestão, Liderança, MBA e blá-blá-blá), além de trabalhar na “sonhada” carga horária de segunda a sexta...além de folgar todos os feriados...e estar em um luxuoso escritório com ar-condicionado e um laptop todo meu, tendo como uniforme o mais lindo terninho executivo, com um salário digno de minha função, eu fiz como Forrest no meio do deserto do Alabama – “Eu estou muito cansado (...)” – Não fisicamente, entendam. Tenho muito mais energia do que qualquer pessoa de minha idade, sou adepta de bons hábitos esportivos e alimentação saudável.

Meu “cansaço” se deu em ter que correr tão longe e subir tão alto pra algo que não fazia sentido algum pra minha alma. Me sentia muito mais eu, limpando chão de loja e vitrines, me preparando pra receber clientes do Centrão da cidade de Fortaleza.

Quando o personagem principal, em meio à multidão que o seguia devotamente, fala – “Acho que vou pra casa” – Percebo que o retorno, a meu ver, é um movimento de retomada dos meus sonhos mais genuínos. Em minha tenra infância, tinha por hábito o desenho e as leituras. Filha caçula de três irmãs, sempre fui a mais introspectiva. Essa característica de personalidade me fez crescer propensa às artes e à filosofia. Essa última ciência, até cursei por três anos de minha juventude na Universidade Federal do Ceará, mas não foi naquele ambiente esnobe, de mestres “arrotando” doutorados, que me encontrei. Amo a arte de pensar. Ponto Final. Assim como Forrest gostava de correr, sem motivo algum, sem ansiedade de racionalizar.

Acredito que muitos de vocês já passaram por esse momento de “divisor de águas” e descobriram que poderiam ir por outro caminho e seguir novos sonhos. Foi assim que minha epifania se deu: em um hotel cinco estrelas pago por minha empresa. Descobri que ali não era meu lugar, que dinheiro não é mesmo tudo, que a realização do nosso espírito vem de um despertar chamado Propósito.

Por esta razão é que hoje escrevo, desenho, canto e danço desmedidamente. Porque Deus me deu uma vocação. Nem sempre nosso chamado envolve dinheiro, ou sendo mais incisiva, na maioria das vezes não. Peço desculpas ao leitor por dividir esse texto como se minha experiência servisse de “autoajuda”, mas não é o caso. A ideia que quero expressar aqui é um tanto quanto irônica:

– Dizemos que só valorizamos o que temos quando chegamos ao “fundo do poço”. Bem... no meu caso, eu estava no topo. E lá de cima vislumbrei um chamado da menina que eu fui. Precisei acordar pros meus verdadeiros dons e retomá-los.

Sim...sei que um dia estarei reintegrada ao mercado de trabalho. E é com o coração repleto de alegria, que falo que não faço a mínima ideia do que farei pra me manter. Estou livre de tudo o que a sociedade me impôs de ser, para enfim me tornar Eu Mesma.

05 de setembro de 2019

Andréa Agnus
Enviado por Andréa Agnus em 28/11/2019
Reeditado em 28/11/2019
Código do texto: T6806250
Classificação de conteúdo: seguro