Em quedas banais.

Quem poderia acreditar? Mas, foi exatamente assim: duas quedas em nossas vidas. Falo de cair mesmo! Não é metáfora não. Foram dois acidentes. Um levou minha tia desse mundo, outro quase matou minha irmã. “Onde foi? Como foi?” Alguém poderia me perguntar. Foram dentro de casa, na casa de cada uma delas.

Minha tia com setenta e poucos anos, muito saudável pra idade, amante de viagens, praticante de vôlei (isso mesmo de voleibol) e morreu ao tirar uma blusa, uma simples blusa. Teve uma crise de labirintite e bateu com a cabeça no chão. Faleceu três dias depois que entrou em coma.

Minha irmã teve uma queda de pressão, caiu desmaiando, agarrada a uma cadeira de madeira maciça, sem perceber armou uma armadilha pra si mesma, caiu por cima desta. Quebrou o maxilar e perdeu boa parte dos dentes da frente que foram reimplantados, posteriormente. Passou por cirurgias que causaram muitas dores pra ela, principalmente no processo pós-cirúrgico. Minha irmã, uma viajante assídua, amante de esportes de aventura. Todos perguntaram como aconteceu tal fatalidade: “foi na barra de poli dance ou praticando kite surf”. Não. Foi em casa. Acidente doméstico. Policiais foram ao hospital onde ela estava para investigar: “será que era um caso de violência doméstica que estavam escondendo?” Não, senhores. Foi uma queda de pressão que quase a matou.

A vida é tão hilária que cai na banalidade. Quantas vezes nos privamos de algo por medo das consequências? Porque viver, no fim das contas, é como pular de bungee jump: é muito mais fácil morrer dentro de casa dormindo, por exemplo. Então, por que nos privamos de viver tantas coisas por medo do que pode nos acontecer?

Desde o ocorrido desses dois casos estranhos em minha família, perdi o medo de me jogar no mundo e arrisco ser feliz sempre pulando de cabeça, nunca tomo medidas preventivas. Para que afinal? Quando eu tiver de ir desse mundo, a morte pode vir me buscar de dentro do meu lar, enquanto eu tiro um tênis ou uma blusa.

Porque agora acredito, plenamente, que a gente só parte pra outra vida quando chega a hora. Assim vivo: como se o dia de amanhã fosse o último e o primeiro, também.

01 de dezembro de 2019.

Andréa Agnus
Enviado por Andréa Agnus em 01/12/2019
Reeditado em 01/12/2019
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