A Grande Luta

Aquela foi a maior luta que ele fez. Era a luta contra a vida. Subiu no ringue com a mente carregada de sonhos e coração transbordando de esperanças. No outro lado estava a vida, um adversário ardiloso que sorria para ele enquanto ele tentava aquecer para o confronto.

Talvez o certo fosse andar em volta do ringue para tentar encontrar-se com a melhor posição, mas a vida foi cruel e desde que a luta começou ela se encarregou de bater com força. Não foi uma, nem duas vezes, em que ele, quando menos esperava levava uma batida forte, bem no meio do rosto, que lhe obrigava a procurar as cordas para se segurar.

Ele nunca pensou em desistir, muito pelo contrário, por longos e longos assaltos tudo que o que ele pensou era que poderia vencer a vida apenas se esquivando de um golpe aqui e ali e aguardando para que ela lhe indicasse o melhor caminho para a vitória.

Assim ele até conseguiu alguns avanços, mas quando ele menos esperava a vida vinha e lhe dava um novo murro, e com o passar do tempo, mais fraco do que no início, agora quando ele era atingido ele caia.

A contagem foi aberta por inúmeras vezes, mas ele se assegurando nas cordas voltava a ficar de pé, encarar a vida de frente e seguir lutando. Assim a vida seguia tomando terreno, lhe atacando e marcando pontos.

Os golpes mais fortes que ele recebeu foram no coração e vieram da forma que ele menos esperava. A vida se aproveitava de outras mãos para lhe atingir e ele aqui e ali, com o corpo já inclinado para a frente, buscava qualquer canto do ringue para se reestabelecer.

De tanto apanhar ele entendeu que precisava levantar os braços. Não era por maldade, nem por intenção de atacar de volta, mas, porque se fazia mais do que necessário que ele se defendesse e então ele fechou a guarda.

Quando se deu conta que a esquiva não era suficiente, eis que ele levantou e firmou a guarda. No início foi difícil, porque quando ele se sentia seguro e confortável um novo golpe lhe atingiu em cheio.

Ele não pode dizer que aquele foi o golpe mais forte que ele sentiu, mas talvez tenha sido um dos mais significativos, porque ele veio de onde ele menos esperava, no momento em que ele menos esperava.

Mais uma vez ele foi o chão. O gosto do sangue lhe sufocava e a vontade de chorar, gritar e talvez desistir estava grudada na sua alma. Ele lentamente, ouvindo o juiz abrir contagem, levantou mais uma vez.

A diferença das outras vezes em que ele caiu e levantou é que agora ele decidiu que nada mais o iria derrubar. Ele mentalizou todas as coisas que fez errada até aqui e decidiu que não mais erraria e então fechou a guarda de maneira que isso não fosse mais possível. Ele não tem como afirmar se a vida não encontrará outra maneira de golpeá-lo, pois ela é ardilosa, mas ele está convicto da decisão de que não se deixará ser golpeado pelo mesmo golpe uma segunda vez.

Por isso, e por mais nada ele decidiu mudar seu estilo de luta. Foi assim que ele encontrou uma maneira de se proteger e que ele de fato acredita que vai funcionar, o que por consequência, não lhe permitirá mudar agora, pois ele, mais do que antes, não está disposto a voltar atrás.

Há quem diga que ele pode voltar a ser como antes, ou que ele pode baixar a guarda que as coisas vão ser diferentes, e agora a vida lhe será mais protetora, mas ele bem no fundo, por mais que não duvide disso, tomou uma decisão e sabe que a maioria dos fracassos ocorrem quando seus mantras, mandamentos e convicções são abalados. Por isso não abalá-lo-ás.

A vida continua dançando em sua volta, com o mesmo sorriso sínico de antes. A diferença agora é que ele decidiu fechar a guarda, se brindar, e não abrir por nada e pela primeira vez ele está convicto que a melhor forma de vencer essa luta é andando para frente, ganhando o meio do ringue e ficando longe das cordas.

A eterna luta entre o homem e a vida. Será que um dia conheceremos um vencedor?

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 02/12/2019
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