Sol nascendo, ciclos, fim de madrugada

Hoje eu passei o dia te pensando desde que acordei. Exatamente, foi te pensando, como imaginando o que se passava em sua cabeça, ou que te levou a protagonizar diversos gestos ao longo de nosso convívio, como suas frases, carinhos e dengos. Fiquei te pensando naquelas suas reações, que eu nunca soube como interpretar de fato, já que parecia brincar com um tom sério ou falar sério em tom de brincadeira.

Passei minha manhã mastigando o que conversamos em “pseudotérmino”, em semidespedida, e te pensando no nosso meio adeus, no encerrar daquilo que ora construímos apenas para os momentos em que nossos lábios se deitavam juntos e encontravam o beijo. Te pensei em todas as vezes que usou minhas ideias e jargões para quebrar meus argumentos, todas as tuas trapaças em virar o jogo para mim e eu ainda achar graça.

Te pensei nos silêncios que fazíamos ao pensarmos em algo que nos tocava o peito e preocupava a cabeça, nas falas engasgadas e sem jeito vez ou outra, como hoje ao fim da madrugada, encerrando o ciclo da noite e, de certo modo, do nosso envolvimento em eros. Fiquei te pensando no momento de nossa conversa com o sol nascendo e atravessando em luz minhas cortinas; você a me olhar espichado e ouvir com expressão não modificada, nem de aprovação ou reprovação, felicidade ou tristeza, mas não era indiferente também. Talvez tenha sido mais um momento em que eu não soube entender algum sinal seu...

No samba do bar em frente meu prédio está tocando Oceano do Djavan, enquanto reflito todos os momentos em que te pensei hoje, por nossos laços e também algumas expectativas minhas, que esbarram n’alguma insegurança minha, para qual julgo não ter mais idade. A canção de algum modo me mergulha um pouco mais nos pensamentos, me fazendo recordar as vezes em que me disse que te transbordava, e eu borbulhava por dentro em segredo por timidez (ou vergonha de te falar o que sentia com medo de que se afastasse). Agora me esforço em não te mandar uma mensagem com a música.... Sinto por dentro o eco sonoro me chamando de tolo, e talvez eu até concorde.

Nossos momentos são distintos, acredito que nossos ciclos são também e não faço a mínima ideia do que achar sobre minha decisão pelo afastamento. Quando te penso, uma vontade de voltar atrás me corrói, minha tentativa racional aponta que acaso será melhor a distância. Mas esse acaso indica incerteza, e eu sigo sem tomar nenhuma outra atitude, nem pensando em mim, nem pensando em você, nem te pensando.

Resto à esta escrita que provavelmente não te chegará. Ainda bem que esse provavelmente também indica dúvida.

Choro – podendo ser verbo ou substantivo.

Crônicas de um Ignorante
Enviado por Crônicas de um Ignorante em 08/12/2019
Reeditado em 09/12/2019
Código do texto: T6814129
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