Estranhas?

Naquela manhã fria, levantar da cama era uma tarefa difícil, principalmente pela noite intensa passada, o barulho do despertador soava como um martelo em sua cabeça, se praguejava por ter bebido tanto e acabar se esquecendo que precisava acordar cedo; O Sol fitava sob sua pele bronzeada, porém coberta por uma grossa camada de seu sobretudo, enquanto caminhava apressadamente para cafeteria a procura de um cappuccino bem cremoso e com muito creme e algumas rosquinhas, mas hoje o local estava tão cheio que qualquer conversa ao seu redor parecia incomodar. Assim que seu motorista chegou, pôde enfim desfrutar do silêncio absoluto e acalmar sua cabeça que insistia em doer. Chegando em seu escritório, ela enfim se sentia disposta, afinal a viagem até ali por sua sorte durou um bom tempo, e com isso já estava melhor para encarar mais um dia. Durante a reunião, seus pensamentos estavam esvairados por saber que precisaria fazer um viagem para sua nova pesquisa, ela de fato não achava um bom momento para isso, mas os resultados não podiam esperar; Após um leve almoço, ela resolveu ir pra casa arrumar as malas pois teria que embarcar no dia seguinte.

Graças a uma ótima noite de sono, ela acordou mais cedo que de costume, preparou um café da manhã reforçado enquanto assistia ao jornal, logo arrumando tudo que precisava para sair, e pouco tempo depois seu motorista já estava à porta para ajudar com as malas. Já no aeroporto, as horas passaram tão rápidas que quando se deu conta, já havia chegado em seu destino, e podia sentir isso ao notar a drástica mudança de clima, que lugar quente... Seu hotel ficava em um lugar bem localizado, agitado até, apesar do lugar não ser como uma cidade grande, mas tudo parecia muito acolhedor, principalmente os moradores. Por causa do cansaço da viagem, ela resolveu pedir o jantar em seu quarto, optou por uma salada leve com frutos do mar, e acabou comendo na varanda, pois a sacada oferecia uma vista maravilhosa, sem contar como a noite estava fresca.

Na manhã seguinte, ela e sua equipe já estava preparados bem cedo, tomaram um rápido café da manhã e foram logo para seu destino. A Reserva Natural era o ponto zero onde eles iriam produzir aquele documentário, e a mulher se sentia animada pois tudo estava saindo como planejado. Após um dia longo de gravações, eles resolveram tirar o fim da tarde para relaxar, e aproveitar mais o lugar; O Sol ainda estava muito quente, então Alexandra não pensou duas vezes ao pular na cachoeira que parecia lhe chamar para um banho, aquela água estava incrível, e ela pôde realmente se sentir recarregada. Próximo ao lugar onde passariam a noite, havia uma festa, ela não conhecia ninguém, mas como nunca negava novas aventuras, resolveu se enturmar; Observando todos movimentos de dança que o povo local mostrava, as diversas comidas sem fim que eram oferecidas, e toda leveza e alegria que espalhavam, aquilo tudo fez com que a mulher se sentisse completa e feliz naquele lugar, era tudo tão diferente da sua rotina na cidade, a correria, noites viradas, mas ali ela poderia sentir o equilíbrio.

Quando resolveu enfim se sentar um pouco para recuperar suas energias, ela sentiu um olhar preso a seu corpo e era difícil não ser notada, afinal, a mulher era dona de uma beleza difícil de descrever, com cabelos negros e compridos, olhos verdes como a folhagem seca do outono, lábios vermelhos como pimenta e a pele bronzeada devido a tantas viagens que fazia principalmente para lugares tropicais, ela de fato adorava isso, mas era tanto trabalho que nem sempre podia aproveitar e conhecer aonde estava, diferente de hoje; Quando tentou buscar e retribuir o olhar incessante sobre si, ela não conseguiu identificar a pessoa, mas só tinha uma pista do que viu... Azul.

Saindo apressada atrás da pessoa que mesmo sem nem ter visto, conseguiu despertar toda sua curiosidade, chegando ao lado de fora, caminhando para seu chalé quase desistindo depois de tanta procura, ela enfim pode ouvir aquela voz doce ao pé de seu ouvido.

Naquele escuro, os caminhos com uma leve iluminação somente por pequenas tochas, ela pôde sentir todo seu corpo arrepiar, Alexandra podia ter certeza que aquela voz pertencia à cor azul, e ela estava certa. Ao virar, deu de cara com uma linda mulher, um pouco mais baixa que ela, com a pele extremamente branca e rosada, pintada com pequenas sardas que deixavam seu rosto mais encantador, coberto com um leve sorrido sapeca, que tentava disfarçar toda sua animação, mas apesar de toda beleza, seus olhos rapidamente encontraram o azul, seus cabelos eram cor de azul, azul como o mar que tanto trazia paz ao seu coração, e naquela hora ela sentiu o coração bater mais rápido do que nunca, mas que logo foram acalmados ao ver os olhos profundamente negros e brilhantes que a mulher possuía. Aquele momento que parecia durar uma eternidade, foi interrompido quando Alexandra ouviu novamente a doce voz dizendo "Oi estranha", foi difícil disfarçar o sorriso, mas logo se tratou de retribuir o comprimento, sua voz rouca se misturou facilmente com o doce da mulher, seu nome era Laura.

Alexandra sempre foi muito segura de si, sabia o que fazer, e tinha o controle de tudo, do jeito que queria, mas naquele momento, Laura lhe fez sentir como uma adolescente sem saber o que fazer, e como se parecesse entender isso, ela lhe deu um beijo. Um beijo quente, profundo mas que ao mesmo tempo era lento, consumindo todo o folego de seu pulmão, ela não queria que esse momento acabasse, e de fato não passou, ela se sentiu mais a vontade quando as mãos da mulher envolveram sua cintura e os corpos ficaram mais colados, o calor que elas compartilhavam era mútuo, mas logo percebeu o quanto as duas estavam em desvantagem de tamanho, e assim interromperam o beijo. Nada disso parecia ser real, tamanho acaso que elas se conheceram, e o beijo tão desesperado, mas as duas podiam se sentir como se fossem próximas, muito distante de serem estranhas. O chalé de Alexandra estava logo ao lado, e as duas de mãos dadas lentamente caminharam juntas num silêncio tão confortável, coisa que ela nunca tinha sentido com outro alguém; Toda aquela calma se transformou em beijos cada vez mais apressados, sem ninguém precisar dizer nada, o silêncio só era quebrado com o som da respiração pesada, a voz rouca que sussurrava palavras difíceis de serem compreendidas, e assim a noite parecia não ter fim, duas estranhas que passaram a se conhecer por inteiras.

Luna IndigoColibri
Enviado por Luna IndigoColibri em 12/12/2019
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