PEREGRINOS EM COMPOSTELA
 
            Deixando Braga em Portugal seguimos viagem para Santiago de Compostela na Espanha. Nossa próxima parada pelo roteiro da peregrinação é a capital da comunidade autônoma da Galiza, província da Corunha, com 220 km² de área e cerca de 96 mil habitantes. Destaca-se como destino de peregrinação cristã, tendo ali se encontrado os restos mortais do apóstolo de Jesus Cristo, chamado de São Tiago Maior.
          Embora existam outras versões indicativas da designação do nome da cidade, a que mais é considerada provém do latim “campus stellae” ou campo da estrela, evocando a estrela que indicou ao bispo Teodomiro a localização do sepulcro de pedra de São Tiago e seus dois discípulos Teodoro e Atanásio, local onde hoje está erguida a catedral.
          Tem-se como o primeiro peregrino o rei Afonso II das Astúrias, que para assegurar seu poder mandou construir a igreja, fixando ali uma comunidade religiosa e fundando uma povoação. Fazendo São Tiago o padroeiro do lugar, um santo cavaleiro e mata-mouros, consegue combater os muçulmanos. A cidade cresceu ao longo dos séculos, sendo atualmente uma cidade universitária, sem, no entanto, decair a atividade religiosa e recebendo anualmente cerca de milhares de peregrinos.
         Nossa visita se deu à Igreja de São Francisco e à Igreja Catedral de Santiago. Na primeira assistimos a missa dos peregrinos, por estar a catedral em serviços de restauração. A missa é oficiada todos os dias às 12 horas, sendo feito a leitura da lista dos peregrinos e de suas nacionalidades. Lá eles agradecem a Deus por suas experiências vividas e por haverem alcançado a meta de terem percorrido o caminho.
          É muito interessante ver os romeiros ou peregrinos chegando à cidade, a pé, a cavalo, de bicicleta e portando as suas mochilas com seus pertences. Ao caminharem sempre conduzem uma concha do mar onde está pintada a cruz de São Tiago, símbolo do transporte do corpo de São Tiago num barco mágico e dos caminhos que levam os peregrinos a Santiago, posto que em sua face externa se veem canais em relevo que começam em vários pontos e convergem para um único ponto.
       Basicamente são cerca de 15 caminhos que conduzem os peregrinos a Santiago, os quais devem fazê-los a pé, destacando-se os caminhos históricos: francês, português, inglês e primitivo. O peregrino adquire a credencial numa igreja ou num albergue e cumpre o roteiro seguindo as setas amarelas indicativas dos trechos do caminho. Hospeda-se nos albergues autorizados que carimbam a credencial. Com o último carimbo ele recebe em Santiago a Compostela, que é o diploma de caminhante.
          Como fomos de ônibus de Lisboa até Santiago, a rigor não cumprimos as exigências estabelecidas para os míticos caminhos, cuja observância premia os caminhantes com esse certificado de peregrino. Não obstante, isto não nos retira a auréola de peregrinos, apenas não temos o documento oficial de comprovação. E nem mesmo a concha que deve ser jogada ao mar no final da caminhada, embora eu tenha comigo a minha e Socorro também.
            Visitamos a catedral e abraçamos São Tiago no altar da cripta da capela-mor. Por trás desse altar há uma pequena escada que dá acesso à imagem pela parte de trás. Passando por ela as pessoas podem dar o seu abraço a São Tiago. Ao descer por outra escadinha se tem acesso à urna de prata onde estão as relíquias do apóstolo e dos seus dois discípulos. Este ritual do abraço se cumpre desde 1211, quando terminou a construção da catedral, iniciada que foi em 899 e depois reconstruída a partir de 1075.
          Há ainda o botafumeiro na catedral, que é um incensário de 53 kg, de 1,5 m de altura, suspenso a uma altura de 20 metros, que percorre toda a catedral movido por 8 homens chamados tiraboleiros, mas que, infelizmente não vimos por conta dos serviços de restauração daquele templo.
          Segundo a Bíblia, Tiago Maior, filho de Zebedeu e Salomé, irmão de São João, o Evangelista, foi um dos quatro primeiros discípulos de Jesus Cristo. A figura de São Tiago Maior está representada de 3 modos: o apóstolo, o peregrino e o cavaleiro. Como apóstolo ele está vestido com uma túnica comprida e com o Novo Testamento na mão direita; como peregrino ele está com os apetrechos típicos dos romeiros, o chapéu com conchas, cajado, surrão e cabaça; e como cavaleiro cristão mata-mouros evoca a lenda de sua aparição na Batalha de Clavijo contra os mouros em 844.
          Como quase toda cidade espanhola há a chamada praça maior, no chamado Obradoiro lá está a fachada principal da catedral, estando a sua frente o Pazo de Raxoj que é a sede do governo da Galícia, de um lado o Hostal dos Reis Católicos que foi um hospital e é hoje um hotel luxuoso e do outro o Colégio São Jerônimo, que é a sede da reitoria da Universidade.
          E assim, encerrando nossa visita em busca de conhecimentos e de elevação espiritual, deixamos Santiago de Compostela em direção a cidade de Lourdes, na França, continuando a palmilhar o nosso roteiro, agora fortalecidos com a expressão que os viajantes dizem pelos caminhos de Santiago: bom caminho, peregrino.
Ailton Elisiario
Enviado por Ailton Elisiario em 22/12/2019
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