Os ontens dos últimos 10 anos

E, assim, se apagam as luzes da década 2010-2019.

Particularmente foi a década a qual eu viverei para sempre. Provavelmente vai ser a década que eu viverei para sempre.

A adolescência interminável e emergente.

Os vinte e poucos anos.

O vigor da pouca idade.

O aprendizado daquele que para sempre aprenderá.

Foi tudo muito rápido e foi onde tudo começou. Onde eu tive as primeiras melhores e piores experiências e tentei evoluir como pessoa. Falhando diversas vezes.

2010 foi o ano em que eu começaria o ensino médio, ainda com a esperança de ser um ícone do rock.

2019 foi o ano onde eu definitivamente me afirmei profissionalmente. E acredito que como pessoa, também.

Quem me conhece sabe que sou - ou tento ser - extremamente organizado.

As coisas saíram bem. Talvez não da maneira que eu planejei. Mas com a certeza de que o que me trouxe até aqui foram as atitudes e escolhas - boas ou ruins - que tomei no meio do caminho.

O que aconteceu nesse intervalo, meus amigos... poderia virar filme.

De comédia, majoritariamente.

Mas poderia ser adaptado para um drama daqueles de chorar junto ou então um suspense daqueles de se sentir parte da história.

Juventude, eu gostaria que você ficasse. Passado, eu queria que você voltasse.

E por mais que eu tente segurar o tempo com toda a força que me resta, a unica coisa que vejo é escorrer pelos vãos dos meus dedos pra nunca mais voltar.

Chegamos, então, à uma época que parecia longe demais. À nivel de comparação, estamos mais perto do ano de 2030 do que do ano 2000.

Nesse ano que chega eu completo 25 anos.

Quando criança, 25 anos parecia uma idade inatingível. Ou que pelo menos demoraria 50 anos pra chegar.

Hoje bate à porta. Cada vez mais forte.

Sou muito grato por ter acompanhado tudo tão de perto, embora algumas coisas preferisse que ficassem longe.

Eu sempre pensei meio diferente.

Sempre acreditei que numa sola de sapato tem mais conhecimento do que aquilo que aprendemos na escola e que nas fotos da estante (ou das redes sociais, agora) tem mais história do que um museu inteiro.

Compreendi por inteiro o que isso quer dizer.

Essa década foi a personificação do “há males que vem para o bem”.

Essa última década voou e hoje eu compreendo o que meus pais diziam sobre o tempo passar rápido demais.

Foi nessa década que eu tive minha primeira namorada, foi nela que eu arranjei meu primeiro emprego e foi nela que me formei na faculdade.

Eu sempre disse que minha vida sempre foi um vai e vem de pessoas. Já precisei dizer adeus pra muita gente que eu queria que ficasse.

Algumas partiram sem que eu quisesse. Outras simplesmente partiram.

Outras chegaram.

Algumas mais ainda estão chegando.

Algumas, inclusive, chegaram e já se foram.

Mas todos, sem exceção, contribuíram para construir a década de ouro da minha vida.

As histórias que meus pais contam sobre os anos 1970 e 1980 certamente serão as histórias que eu contarei aos meus filhos sobre os anos 2010.

Por falar nisso, meus amigos estão se casando e tendo filhos. Isso me assusta, uma vez que parece que foi ontem que estávamos bebendo escondido nos cantos da cidade e em fundo de bar por sermos menores de idade.

E eu, pra ser sincero, já nem me lembro qual foi a última vez que juntei todos eles pra tomarmos uma cerveja gelada e acreditem: relembrarmos e contarmos pela milésima vez as histórias do começo dessa década - como as histórias da viagem de formatura que fizemos no último ano do ensino médio, por exemplo.

Tem gente que foi morar do outro lado do mundo, tem gente que casou e teve filhos, gente que só teve filho, gente que não bebe mais e gente que infelizmente não se fala mais.

Me sinto cada vez mais encurralado pelo peso de ver o tempo passar.

Foi a década onde eu fiquei velho demais pra morrer jovem.

Foi a década onde eu percebi que ser um astro do rock ou jogador de futebol ficaria só nos meus melhores sonhos. Um jogador aposentado antes de estrear e um rockstar frustrado.

Foi a década onde tudo virou história, estória e um monte de mentiras, que contadas mil vezes...

Foi a década onde eu tentei, desde quando me dei conta, entender tudo isso. Entender as razões, os motivos, os rumos e as direções.

E se eventualmente eu nunca encontrar o sentido da vida, vocês que me desculpem, mas eu vou morrer procurando. Uma certeza eu tenho: não é acumular patrimônio.

Se for, a vida é uma grande decepção a qual eu ainda desconheço.

Foi a década que comecei a me perguntar “e quando eu morrer?”

Quem vai ficar com os meus brinquedos? - que nessa altura da vida já são escritos, escritório, clientes e bens.

Foi a década onde eu moldei e mudei meus ideais políticos.

Foi a década onde afirmaram que, mais do que nunca, eu deveria me esforçar pra vencer na vida.

Pra variar, eu não dei muita atenção.

Eu quis é viver. E é isso que eu continuo buscando.

Foi a década onde eu, a todo instante de desatenção, me questiono o sentido disso tudo.

Cheguei à muitas conclusões e nenhuma resposta.

A vida é desafio, encontro, desencontro, certeza, incertezas, alegrias, frustrações, buscas, perdas, sofrimentos, enganos e desenganos.

Tudo isso num eterno e permanente processo de “estar sendo”, se conhecendo e tentando se entender, buscando o nosso eu - a energia prima da vida.

Foi a década que eu percebi que o peso de um diploma universitário é bem menor do que me disseram.

As pessoas mais incríveis que eu conheci mal tinham o primeiro grau completo. Algumas delas nem sabiam escrever.

Eu comecei a década sem saber direito o que eu seria. Mas já tinha muito bem definido quem eu seria.

Foi a década em que eu passei a me importar menos com um monte de coisa.

Foi a década onde eu percebi que se importam muito mais com o cargo que eu ocupo ou do salario que eu ganho do que com aquilo que eu tenho pra dizer num sábado a tarde, sentado numa mesa de bar.

Eu tenho coisa muito mais importante pra defender do que um terno na estica, uma gravata alinhada e um sapato brilhante.

Eu tenho coisa muito mais importante pra defender do que um decreto imperial que supostamente me dá a condição de doutor.

Foi a década que eu percebi que eu quero deixar alguma coisa pra eternidade.

Engana-se, no entanto, quem entende que quando digo isso, me refiro à bens pros meus herdeiros brigarem.

Pelo contrário.

Eu quero deixar alguma coisa de verdade.

Um jeito de falar, um modo de se expressar, uma forma de enxergar as coisas. Um exemplo.

Eu quero uma rua com o meu nome.

Hoje, no último dia da década, quando olho pra trás, o que eu enxergo é um punhado de gratidão, de alguns arrependimentos e de boas e más escolhas que me levaram pra onde eu estou hoje. Poderia estar além, poderia estar aquém de, não sei. Eu nunca vou saber. Afinal de contas, já dizia o mantra: a vida é uma só.

Eu vejo essa última década - e a minha vida, de maneira geral - da mesma forma como eu aprendi a andar de bicicleta.

Eu andei com rodinhas até uma parte.

As tirei e, então, caí muito. Pedalei por alguns metros meio sem equilíbrio e caía de novo. Muitas vezes com alguém pra me ajudar a levantar.

E então, por mais alguns metros até cair, cair e cair de novo.

Até que finalmente aprendi. Pra nunca mais esquecer, mas com a chance de melhorar.

Espero que as próximas décadas sejam assim. Uma constante evolução do meu eu, com a incessante busca do sentido de tudo isso.

Por tudo aquilo que foi a ultima década. Por tudo aquilo que representou - e que ainda representará - a última década, eu afirmo: foram os anos mais inesquecíveis da minha vida.

Que venham os próximos!