IMAGINE QUE VOCÊ TENHA CÂNCER

Saiu na Folha de hoje uma matéria do jornalista Gilberto Dimenstein em que relata o que lhe aconteceu após ter sido diagnosticado, neste ano, com câncer muito agressivo de pâncreas, complementado por metástase no fígado.

O seu tumor passou por análise genética que identificou a probabilidade de 1% de ocorrer uma mutação que possa ter tratamento promissor.

Já eliminaram o câncer de pâncreas em ratos e estão iniciando os testes em humanos. E ele já se colocou à disposição para participar destes testes.

O Gilberto conta que o câncer fez grandes mudanças na sua vida, deixando de ser o jornalista racional, imparcial.

Assim passou a desempenhar papel de torcedor, exercendo seu ofício com viés do empoderamento, usando a habilidade com as palavras para promover causas.

Também discorre no texto que, com câncer ou sem câncer, vamos todos morrer.

Mas é possível atingir uma certa profundidade ao nos depararmos com o limite da vida.

No caso dele, a situação bem adversa o levou ao mundo das gentilezas, pois cada pessoa que encontra tem uma palavra que acarinha, uma dica de oração, um chá que poderá ajudar, um olhar gentil.

Fiquei imaginando como eu reagiria se tivesse tido um diagnóstico como o dele.

E o quanto a notícia poderia dar novo significado aos meus dias e ao jeito como lido comigo, com as pessoas do entorno e com o mundo.

Ninguém sabe o que nos reserva o minuto seguinte.

Talvez enquanto estou escrevendo esse texto um tumor esteja à espreita em algum canto do meu corpo, pronto pra dar o bote.

A partir daí, sessões de quimioterapia, enjoo, febre alta todo dia, mudança no paladar e tudo mais que vem de lambuja no tratamento, cujo resultado será uma incógnita do tamanho do universo.

Talvez não seja essencial ter uma doença assim para rever o próprio roteiro.

Talvez as reflexões do premiado jornalista possam fazer virar certas páginas e assim lidar melhor com a vida.

Mais do que simples metáfora, podemos ir em direção à inevitável morte do jeito que bem entendermos.

Não há lei que nos obrigue a seguir sempre do mesmo jeito, enfrentando certas turbulências "inevitáveis" que cruzam religiosamente os nossos caminhos.

Se imaginar diante de uma situação-limite como a que ele está enfrentando pode gerar uma grande mudança de planos.

Ótimo 2020 pra todos!

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 31/12/2019
Reeditado em 31/12/2019
Código do texto: T6831230
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