Liberdade e afins

A liberdade me apraz. A austeridade também. Sinto imensurável prazer, quando as minhas palavras são mais escuras que a minha intenção. Sinto-me maldosamente feliz quando transpasso o coração alheio, sinal que cumpri meu destino. Minha forma de praticar minha liberdade. Minha forma de ser. Minha extravagância. Minha mentira.

Nunca pensei que teria essa consciência, de que tudo quanto é dito, não pode ser repreendido, se foi dito, certeza que foi cogitado, se cogitado, nada mais justo compartilhá-lo. Não é bom quando se pode ver exatamente o que trazem dentro de si, como se fôssemos feitos de vidro? Não é bom não ter de decifrar, mas simplesmente aceitar ou não, mas sem julgar?

A liberdade é ambígua, ao tempo que é linda, tem certo aspecto bizarro, porque dela descendem todos os pecados do mundo. Por causa dela Eva comeu o fruto, e continuamos a comer do mesmo, séculos depois, na busca incessante pelo conhecimento pleno, como se isso fosse significado de felicidade.

Conhecimento não é felicidade. Ignorância sim. Ou acham que a pessoa traída, caso não tivesse ciência da desonestidade do cônjuge, teria o porquê de se magoar? Enquanto ela permanece na ignorância, ela é feliz(?).

A liberdade é libertadora, é um dom, um ser. Dela nos apoderamos para justificar nossos atos, “expressão” é sua amiga inseparável. Pleonasmo! Ambas se co-definem, desnecessário empregá-las ao mesmo tempo, contudo é sublime. Impactante. Essa é a intenção.

O Homem ama a liberdade. Mas odeia a sensação desesperadora inteiramente vinculada à sua escolha. Odeia o fato de que ela sempre traz consigo segredos obscuros, que só se revelam quando a descobrimos, como se fosse uma espécie de caixa de pandora.

Mais que isso, o homem odeia ter de ser responsável por ser quem é, odeia ter que responder pelos seus atos. O que ele adora é achar alguém a quem transferir sua culpa. Como exímio fraudador que é, ele sabe bem onde encontrar um bode expiatório para redimi-lo de seus pecados. Pena que os bodes estão extintos, utilizemo-nos das ovelhas obviamente!

As ovelhas são aquelas que permanecem ali, submissas, prontas para aceitar o jugo suave. O jugo a mantém imóvel, adequada às situações, pois ela não sabe se comportar nas mais simplórias ocasiões... Contudo, necessita de um pastor para sua redenção muda. Numa relação pseudomutualista, onde não se pode mensurar quem sairá ganhando. Se é que alguém sobrará para contar.