Vinte Vinte

Vinte Vinte








Palavra que quando eu cheguei na porta do local onde se daria a festividade para os idosos da família, e nada do bolo, ligo para a confeitaria e a atendente se mostra ignorante da encomenda feita uma semana antes, palavra, quase pari gêmeos na calçada.

Cinco minutos depois chegou o entregador. Tivemos uma solenidade com 400 salgadinhos, 6 quilos de bolo sabor mousse de maracujá, 12 refrigerantes diet, conversas amenas cuja maior impressão foi que a patuscada sobrepujou as eventuais incompreensões de uma parte ou outra.

De barriga cheia nem sempre concernir é a tônica do momento.

Se minha vida dependesse da efetivação da mudança de senha da Apple eu estaria agora sendo velado, se possível numa missa de corpo presente, como se fazia em priscas eras. Li as instruções e era a mesma coisa que assistir HBO em coreano. Me deu um cansaço danado de olhar aquilo. Uma nova estratégia será pensada, ou não.

De tempos em tempos leio um sujeito na web que me parece uma voz lúcida em meio a balbúrdia e as sandices. Tenho acompanhado regularmente seu trabalho nos últimos 2 anos e o cara não erra uma, opinião minha, óbvio, volta e meia pede contribuições para as pessoas em sua página - facebook - disponibilizando agência e número da conta. Me deu uma vontade danada de apadrinhar, mandei mensagem sucinta explicando que minhas contribuições seriam modestíssimas, mas que seria necessário ele fornecer o CPF para consumar a transação. Nunca respondeu.

Dei de ombros. Daí teci comparações de vida, ele deve ter uns 35 anos, no máximo, milhares de leitores, e eu, pelo andar da carruagem, como humano e pseudo escritor, penso estar no ponto para ostentar a tarja "patrocinado por Metamucil”.

C'est la vie…

Fiquei a par do tal estudo feito na Inglaterra que aponta a incapacidade dos jovens de compreender ou mesmo lidar com o conceito da masculinidade. E daí, um amigo me conta que leu uma matéria em inglês, provavelmente publicada nos States, de que o último trabalho do Tarantino enfatiza esse aspecto através dos protagonistas DiCaprio e Pitt. Pensei no assunto, sempre que nos mostram uma nova possibilidade a mente plana no corredor. Mas acho que o grande trunfo do “Era uma vez em..Hollywood” foi a alteração do passado feita pelo cineasta. Eu estava entrando na pré-adolescência quando a reportagem da revista Manchete nos trouxe o assassinato da Sharon Tate. Aquilo me atingiu como se fossem amigos íntimos. E pensar que o demônio do Manson, que nunca tocou nas vítimas, desferiu que pouco poderia importar o que ele dissesse ou não para os seus pupilos porque, afinal, aquilo estava dentro deles, e portanto, nada mais fizeram do que exteriorizar. Difícil contestar.

Bom, aquela turminha foi a antítese do “eu me rendo à minha expressão de vida mais satisfatória”.

No final de contas, o que vale no filme do Tarantino é o desfecho com a Sharon poupada daquela infâmia graças aos protagonistas e, quanto aos meliantes, leia-se hippies, dizimados, por ação tal qual um míssil do Donald.

Mais uma vez a mente acha um corredor para passear.

Tudo muito rápido agora, mais brilhante, refinado, integrado com múltiplas experiências perceptivas, apesar dos gemidos das bestas, o Grande Cenário ganha sofisticado amor nessa alvorada de 2020.

Houve um Mestre que certa feita disse exatamente assim: O futuro é o passado curado. 

Tempos depois, outro Mestre acrescentou: O futuro é o passado com um anjo do lado.
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 09/01/2020
Reeditado em 19/02/2020
Código do texto: T6838194
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