O SENTIDO SEM SENTIDO

Grande parte, ou melhor, a totalidade do que apreendemos da vida nos é informada pelos nossos sentidos. Uns dizem ser cinco, já outros juram tratar-se de seis. Muitas das vezes, dois ou mais sentidos estão envolvidos na chamada captura das impressões do mundo. Visão e olfato costumam trabalhar bem juntos e quando se trata de comida logo acionam a memória do paladar. Se você, caro leitor, não se lembra exatamente do que estamos falando, experimente olhar para um prato desses de seu agrado e sentir-lhe o cheiro. Imediatamente, instantâneamente sua boca se enche de água, você principia a salivar e logo se lembra do gosto do prato e anseia por ele. Trata-se de uma experiência muito interessante, mas capaz de protagonizar verdadeira cena de terror, por mim jamais dantes imaginada.

Se me tivessem proposto, como exercício, a experiência que passei, jamais teria concordado. Esse tipo de coisa não deve ser da voluntariedade de ninguém são.

Pois bem, certa feita fui buscar meu filho, naquela época ainda adolescente, em sua aula de inglês. Na saída resolvemos passar numa livraria que era bem perto. No caminho da mesma, em plena calçada, divisei um “troço” de cachorro. Até ai, nada de mais. Seria apenas um elemento de sorte, por não pisar nele. A par de ser absurdamente desagradável, costuma acabar com o meu dia. Mas não, ao ver aquela coisa, um cheiro de churrasco me assaltou, vindo de um restaurante próximo. Foi simultâneo e instantâneamente horrível. Talvez esta tenha sido uma das razões de eu hoje não comer carne vermelha, se bem que os benefícios à saúde são inquestionáveis e estiveram sempre presentes na decisão tomada (de abandonar este hábito alimentar). Mas, de qualquer maneira, não desejo esta experiência para ninguém. Salivar olhando para um enorme “troço” de cachorro não é recomendável. Me deu um nó no cérebro, isso sim.