PRECISAMOS DE QUARENTENA

20 + 20 = quatro dezenas

20 + 20 = duas vintenas

20 + 20 = uma quarentena

Quarentena???

Originalmente, quando havia suspeita/evento de doenças graves muito contagiosas, era comum deixar pacientes isolados por quarenta dias (período suposto de incubação da doença), e depois, tal termo passou a ser usado para qualquer caso de isolamento, independentemente da situação, do problema e do período adotado para a medida.

Mas, e daí? Qual a importância momentânea disso?

Estávamos em 2020!

Ao longo de décadas, e falo dos menos jovens, sempre supusemos que, não ocorrendo o apocalipse do início dos anos 2000, estaríamos, atualmente, convivendo com maravilhas de vários matizes tecnológicos, além da vitória contra a fome, a miséria e a desigualdade social.

Quanto às maravilhas tecnológicas, podemos dizer que não são tantas, nem tão radicais como as que imaginamos, mas aconteceram e mudaram muitos de nossos costumes. Já não é possível dizer que vivemos, em várias partes do planeta, como vivíamos até vinte anos atrás.

Todavia, nem a tecnologia, nem o avanço do conhecimento, nem a existência de certas iniciativas de cunho social, foram suficientemente penetrantes no seio da civilização, no cerne dos problemas, que afligem, ao menos, metade da humanidade, senão mais.

Podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que aprendemos a falar bonito, constituir as ONGs, OSCIPs e outras organizações, teoricamente, humanitárias, que, no entanto, quando autênticas e operantes (o que é raro), são pouco ou nada eficientes, quando não engajadas em projetos ideológicos ou empresariais, sem excluir vertentes ilegais. Também criamos partidos e associações, movimentos e instituições, não para resolver problemas, mas doutrinar pessoas e massificar povos, fazendo-os crer que, mesmo continuando a sofrer, estão em boas mãos. Se a cultura erudita é difícil de conquistar, baixemos o nível e criemos a cultura popular, aceitemos o erro no falar e escrever, como característica cultural. Se a arte acadêmica exige dedicação e habilidade extensa, facilitemos a aventura, criando a arte popular, autenticando-a como a mais importante, prioritária e sublime, sem importar o que disso resulte. O estudo convencional está complicado? Vamos criar currículos curtos, superficiais, ensinando banalidades, modificando o conteúdo a ser ministrado, privilegiando a anarquia e incentivando a rebeldia. Se o aluno ficar alheio a tudo que diga respeito à leitura, interpretação, equacionamento e raciocínio, pode-se dizer que é vítima das circunstâncias, do preconceito, da desigualdade histórica.

Paralelamente, abolimos tudo que se reporte à civilidade, respeito ao próximo, cuidado com as instituições, obediência à autoridade e hierarquia, porque o objetivo é gerar confusão, e para isso é preciso que os jovens sejam superficiais, só conheçam o que permitirmos, sejam ambiciosos (gananciosos, até), não tenham escrúpulos, ajam como manada e mantenham, em torno de si, um ambiente agressivo, entorpecido e orgíaco.

Não fica muito difícil deduzir que tudo isso desembocou em divisões nas mais diversas partes do globo, principalmente no aspecto político e governamental. O mais curioso é que em nenhuma das iniciativas houve evidente e inequívoca vitória ideológica sobre os problemas que assolam as coletividades regionais ou nacionais. Podemos encontrar sucesso econômico, certa estabilidade social mínima, alguma prosperidade, mas sempre há desacertos.

Se ao invés da eterna discussão, das puxadas de tapete, da calúnia, das agressões e do foco constante na tomada de poder, tivéssemos autêntica intenção de servir ao bem comum e proporcionar as condições de justiça social, sem violência, sem imposição, sem doutrinação e sem manipulação de qualquer natureza, ou sem partidarismos, o mundo respiraria melhor.

Agora, contudo, dada a esbórnia que se disseminou por todo lado, creio ser mais precisa a adoção de uma quarentena política e ideológica em nosso mundo, não de quarenta dias, mas de quarenta anos, talvez, para que aprendamos a viver,fazer, servir, sem exigências de direitos ou defesas de ideais. Não precisamos de ídolos, líderes, mas de quem abra mão de privilégios, mordomias, bens e regalias, e ao invés de sujar a alma em procedimentos suspeitos, prefira ir ao encontro do trabalho humanitário, sujando as mãos, o corpo, e mantendo alma limpa, mente sã e a transparência típica dos que ostentam ótima índole. Assepsia mental imediata!

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 18/01/2020
Reeditado em 18/01/2021
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