Infâncias Roubadas.

Há tempos não via aquela menina.

Talvez um ano e meio, ou dois anos...

Lembro de ter ido à sua festa de aniversário de 13 anos, convidado por sua mãe, pouco antes dela desaparecer, sumir da velha Eldorado.

Mas agora ela está ali, na minha frente...

Quase não acredito ser ela, tamanhas as transformações físicas.

Quantos anos deve ter agora? Talvez esteja próxima dos 15...

Como mudou nesse pequeno intervalo de tempo!

Pra pior...

Seu corpo, antes delgado, ainda em formação, e que dava a impressão de que seria um belíssimo corpo de mulher quando chegasse aos dezoito, deteriorou-se bem antes disso.

Engordou muito...

Os seios, antes duros, firmes, desafiando a gravidade, sucumbiram com o restante do corpo. Sua pele, antes macia e sedosa, está tomada por erupções cutâneas comuns às adolescentes de sua idade.

Ainda não consigo acreditar que é ela mesma...

Me aproximo, recebo um abraço tímido de cumprimento, pergunto por seus pais enquanto a observo melhor.

Não consigo segurar as indagações:

—O que houve com você? Por onde andava?

E a resposta:

—Casei! Tô morando na roça!

E me apresenta o "marido", um garoto mais ou menos de sua idade, muito pálido, (talvez por estar fazendo sexo com muita frequência) e cuja fisionomia me lembra um camundongo.

—Casou... Balbucio de queixo caído.

Aquele "Casei" não significa, necessariamente, que houve uma cerimônia com comes e bebes e muitos convidados, onde ela, vestida de noiva, jogou um buquê de costas pras amigas... Nada disso.

Aquele "Casei" significa que ela não conseguiu segurar o ímpeto sexual comum a maioria das garotas de sua idade, perdeu a virgindade precocemente, e por pressão dos pais, (dois inconsequentes) foi obrigada a "casar-se", abandonando a escola e abrindo mão de um futuro que poderia ser belíssimo.

Trocamos algumas palavras, nos despedimos, e enquanto observo o jovem casal se afastar, me pergunto quantos meses aquele "casamento" vai perdurar...

Deus proverá...

Chico Rabelo.