O dia em que morri

A vida passou muito rápido, segui em frente, adiando muitas coisas: a leitura de um livro, uma visita aos amigos, o cuidado com a saúde...

Fui deixando para depois, até os sapos que engoli deixei para regurgitar depois; não deveria, tem coisa que é indigesta. Talvez por essa razão tenha me intoxicado um pouco com sentimentos não muito agradáveis.

Outro dia, senti saudade da criança que fui e, ao olhar para trás, quase não a vi. Onde será que ela ficou?...

Cresci, estabeleci-me, consegui coisas que eu queria, realizei sonhos que pareciam impossíveis, mas não me senti em plenitude.

Por quê? Não. Não foi falta de Deus. Aliás, se não fosse por Deus não sei como estaria ou se estaria.

Faço uma analogia, imagine que comprei o carro dos meus sonhos, todos os dias estive com ele, mas nunca desfrutei aquele momento em que o motorista e o carro parecem ser um só. Assim, morro feliz por ter tido o privilégio de ter tido tudo que sonhei; morro infeliz por não ter desfrutado tudo que tive. Morro lamentando ter convivido com pessoas com as quais tinha tudo para ter uma mesclagem e, no entanto, fui como uma árvore que ama e contempla o rio, mas está sempre às suas margens.