Este tempo que não sobra

Passo horas trabalhando, pensando nas coisas para resolver em casa. Passo horas resolvendo coisas em casa, pensando no que tenho que fazer no trabalho. Passo o dia a pensar que tenho ainda aquela apostila para ler, o estudo daquele livro ou daquela matéria ou assunto, e tantas outras metas. Chego no trabalho e não consigo me concentrar totalmente, pensando noutras áreas da vida...

Chego em casa, e penso no trabalho. E assim a vida vai passando, com um montão de coisas para fazer, esquecendo de fazer por mim e para mim. Não tenho deixado um tempo para mim, pensar em mim. Não tenho deixado ou não deixam? Quem não deixa? De quem essa mão invisível que nos impulsiona para ir e vir sem motivo aparente? Só sei que não sobra tempo para mim. Não tem sobrado nada pra falar a verdade.

Do meu trabalho, nada vem para minha casa, nem o que faço, nem as ferramentas que uso para fazer. Se alguém chegar na minha casa e questionar o que faço, minha profissão, apenas observando nas paredes e nos cantos algum indício de meu ofício, não conseguirá conceber a resposta. Talvez na estante de livros conceberá a resposta. Do meu estudo, o que vem para casa fica invisível nas pastas de meu notebook. E só. As idéias, a aplicação, a prática, nada se vê no quarto, na cozinha, banheiro. Não cabe na casa, ou, não serve para o meu lar.

Até meus amigos não “funcionam” na minha casa. Escondo minha morada, e nela me escondo. No mais, fico assim, a construir partes, uma aqui, outra acolá, tudo em partes fora da origem. Se um dia vai virar uma só coisa, um monte de coisa com um só significado para mim, não sei, realmente. Se sobrar tempo, talvez, eu consiga compreender...

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Obs. este texto foi escrito há 5 anos. Adaptei um pouco inclusive, mas de forma que ainda fala daquele tempo. Hoje inclusive meu estado civil é outro. Mas, com aquela mesma queixa.