*Notícias de jornais

Notícias de Jornal

Os jornais podem ser uma grande desgraça na vida da gente, se não filtrarmos os conteúdos a serem lidos. Ninguém jamais irá ver, como manchete de capa, uma notícia alegre. No alvorecer do dia, depararmo-nos com uma tragédia é tudo o que não desejamos. Mas, infelizmente, é só o que eles nos apresentam todos os dias do ano.

Os jornais anunciaram o perigo da carne contaminada com radioatividade de Chernobyl. Caramba! Eu moro no nordeste do Brasil, sem possibilidade alguma de comer carne russa, portanto, essa notícia era completamente desnecessária. Como se isso fosse pouco, não demorou a surgir a notícia da suspeita da carne da vaca louca no Brasil, o que me fez deixar de comer carne de vaca.

Sabemos que, por mais alarmista que seja a imprensa, sempre haverá o perigo de alguma verdade na notícia, ainda que por descuido. Talvez por isso, eu tenha um genro vegetariano e um neto vegano.

Muito antes disso, lá pela década de 50, uma notícia de jornal dava conta de sumiços de crianças gordinhas de uma escola, situada em frente a uma famosa fábrica de salsichas. Pronto, começava aí minha abstinência de muitos produtos enlatados. Mas não foi só por isso. Tempos depois, saiu a notícia de que o conservante contido nas latas era cancerígeno ou canceriano e eu, que sou do signo de “brabuleta”, renunciei de vez!

Os jornais também já anunciaram que o pão francês continha bromato e que a bolacha creme craker continha sal demais e, por isso, ambos eram prejudiciais à saúde. Resultado: de uma só vez, deixei de comer pão e biscoitos no café da manhã, prefiro farinha.

De outra feita, os jornais publicaram uma entrevista com o médico Lair Ribeiro, na qual ele condenava todos os açúcares. “Quanto mais refinado, pior!” E completou, dizendo que tomava café amargo. Pronto, pra mim, acabou a graça.

Pensam que ficou só nisso? Pois sim! O café foi exatamente a “bola da vez”. Os jornais publicaram uma notícia sobre um vídeo que mostrava um caminhoneiro colocando sangue de boi na embalagem de um café a vácuo. E tome jejum!

Não demorou “nadinha” para os jornais mancomunados anunciarem que o frango dos abatedouros estava contaminado com hormônio na ração e água injetada para aumentar o peso. Imediatamente, deixei de comer frango de granja. Para completar, ainda havia uma chateação de minha mulher, querendo saber se era frango ou galinha. Só me faltava essa, sair perguntando o sexo das aves nos abatedouros!...

Depois foi a vez de os jornais anunciarem que estavam vendendo carne de cachorro, dizendo que era cabra. Aí já é (desculpem-me a palavra) sacanagem da braba. Tanta carne de bode que temos no Piauí! Em Petrolina-PE, por exemplo, tem até um “bodódromo”! E mesmo assim, ainda precisam fazer camuflagem, matando os cães? Por isso, também deixei de comer carne de caprinos.

Pensam que acabou? Que nada! Os jornais publicaram que estavam vendendo carne de cavalo clandestino. Isso me causou uma dúvida dos infernos, pois fiquei sem saber se o cavalo era clandestino ou se a venda era ilegal. A saída foi deixar de comer carne vermelha...

Não tardou para os jornais anunciarem que o leite de caixinha estava contaminado com água sanitária. Caramba! Ainda chamam isso de longa vida? Dessa vez, eu nem precisei me posicionar, pois o leite pasteurizado, aquele que vinha em sacos plásticos, capacidade de 1 litro, já havia sumido dos supermercados de Aracaju.

“A quantidade de agrotóxico é de tal monta”, dizia o jornal, “que quem planta morangos, não come morangos”. E eu que já não os comia muito, deixei de vez.

Não tardou e os jornais voltaram a atacar, mostrando um rato dentro de uma garrafa de Coca-Cola. Eu já tinha deixado de tomar esse refrigerante há anos, mas essa notícia deve ter causado pânico nos seus degustadores. De minha parte, fecharam a tampa do caixão.

Mas não parou por aí. Um certo jornal de Salvador publicou que quem vendesse acarajé e não pertencesse à Umbanda, que procurasse outro meio de vida. Motivo: acarajé era iguaria oferecida aos orixás. Pra mim, que já suspeitava disso, queimou de vez o dendê e deixei de comer acarajés.

Os jornais destacaram, também, com letras grandes, que o queijo estava contaminado com coliformes fecais. Os queijos amarelos, então, são mais perigosos ainda. Pronto! Foi mais um alimento que saiu da minha lista de preferências. Como não posso comer queijo do reino, acabou a farra!

Um famoso médico de televisão, versado em falar bobagens, disse que óleos de origem animal, especialmente toucinho de porco, entupiam as nossas veias e artérias. Que nós não nos livraríamos nunca daquela gordura e eu acreditei. Ele pensava que colocaria minha criatividade em xeque, mas eu dei a volta por cima e inventei, com minha própria inteligência, uma nova receita: ovo estrelado na água. Pense num trem ruim de engolir!

Quem não se lembra da Cartilha de iniciação aos estudos primários que dizia: “o vovô viu o ovo”? Pois bem, os jornais disseram que a revista científica Nature colocara o ovo como coisa do diabo. Quem quisesse morrer, era só comer ovo. Que tinha o mais alto índice de colesterol. Eu nem sei pra quê o ovo quer colesterol, nem o que venha a ser isso, mas na dúvida, deixei de comer ovo. Uma de minhas filhas já tinha deixado de comer ovo no dia em que descobriu que o ovo não saía pelo bico da galinha.

Mas os jornais não pararam por aí e sapecaram de cara o nome dos alimentos transgênicos e os que continham glúten. Então pirei de vez.

Todos nós sabemos que os jornais, há muito tempo, vêm denunciando que estão vendendo gato por lebre e isso me fez também deixar de comer espetinho na praia.

No final de 2019, os jornais alarmistas cuidaram de espalhar que os caranguejos estavam contaminados com óleo da Venezuela que vazara de um navio. Mais uma vez, fui na onda deles e deixei de comer crustáceos e mariscos.

A bomba da vez: os jornais acabaram de denunciar que a cerveja estava contaminada com dietilenoglicol e que muita gente foi internada ou encontrada morta em Minas Gerais. Gente! Isso só pode ser conspiração da máfia coreana. Onde iremos parar?

Morrer já é ruim pra cachorro e morrer de fome deve ser o fim da picada! Os jornais querem acabar com o sossego da gente, que já não é muito. Será que vale a pena ler ou escutar jornais de televisão? Sem cerveja, sem espetinhos e caranguejo na praia, o que eu irei fazer lá?

O meu medo agora é de que algum jornaleco, atingido por vírus misógino, se encarregue de espalhar que mulher é algo nocivo ao homem.

Eu que acredito que a serpente seduziu Eva e que a burra falou com Balaão, estou num beco sem saída!

“Deusulive!” Credo em cruz, vôte!

PS. Deixei de tomar caldo de sururu, porque disseram que as marisqueiras fazem xixi sobre eles, para lhes aumentar o volume e o peso.