Relato de quem sofre de disafinite aguda

Não é só do meu horrível futebol que tenho inspiração para escrever. Aliás, se esse inerme escriba dependesse do canto para sobreviver, tava pior que o brasileiro do final da fila do INSS. Sim, sem grana, sem prestígio e, provavelmente, sem amigos.

Graças a Deus – para alegria das massas -, descobrir cedo que não tinha vocação para a canção.

Certa vez, tentando aprender tocar teclado, fui obrigado a ouvir e cantar de acordo com a nota do piano. Depois de dezenas de tentativas meu professor me deu uma possante palavra de encorajamento: “Você quer mesmo aprender tocar?!”

A partir daí, resolvi não solar em público.

O problema é que tenho uma voz bem grave e de dicção razoável. Aí, o pessoal da igreja, principalmente os jovens, resolveram pegar no pé para cantar no grupo. “Precisamos da sua voz no grupo!”, justificou a regente. Como não tenho talentos para levar tomates, demorei dois anos para aceitar. E só aceitei graças a insistência do pessoal.

E nesse domingo, mostrei pela primeira vez minha capacidade de fazer surdos tampar os ouvidos. Fugir do compasso da música e desafinei em todos os tons meus companheiros de banco.

Ainda bem, que foi em grupo, aí dá pra ajeitar. Claro, fazendo os bons cantores, cantar mais alto do que eu.

Bom, para compensar os ouvidos das minhas inabilidades vocálicas, estou pensando em cantar para os políticos em Brasília. Quem sabe eles não se comovem com tanto horror musical e somem da vida pública brasileira? Quem sabe?

João Áquila
Enviado por João Áquila em 08/10/2007
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