A gente morre pela boca, felizmente

Estou aqui, com uma dor de dente bem chata, exatraí um supranumerário, mas até que a extração acontecesse, muita coisa aconteceu antes.

Sempre afirmei que não devemos modificar nada em nós para agradar às outras pessoas, pois somos seres únicos, peculiares e, sobretudo, quem quer que seja, deve nos amar como somos! Acontece, que há uns três meses conheci um rapaz. Eu estava na balada e um amigo em comum nos apresentou. Caramba, amei o que vi, olhos castanhos, corpo sarado e um sorriso lindo! E a pegada? Sensacional! Beijou-me como se o amanhã não existisse. Eu cedi aos encantos, aceitei o pedido para um novo encontro, dessa vez mais íntimo e, lá fui eu, com a paixão na porta de entrada, pedindo para entrar.

O mais engraçado de tudo, é que nosso romance durou um pouco menos de três semanas, mas nesse tempo eu me matriculei na academia, depois de longos meses sem nem passar na porta. Também agendei uma consulta com meu ortodontista, não o via há uns seis anos. Eu queria estar lindo, à altura do boy, então eu comecei a me incomodar durante os beijos, em que ele me pressionava e eu ficava incomodado com a flacidez, comecei a malhar pesado para que pelo menos uma pequena protuberância de massa magra surgisse em meu abdômen antes da "hora h". Os dentes? Os meus, no caso, não eram feios, mas quando tirei o aparelho ortodôntico, não usei aquele outro aparelho chato chamado "contenção", resumindo: entortou um pouco, coisa quase imperceptível, mas eu estava com o ego ferido diante de tanta beleza interessada em mim.

Há algumas semanas que não encontro e nem converso com o rapaz, fiquei muito triste de não ter ido adiante com o romance, afinal, ele é incrível como pessoa, todavia, somos completamente diferentes, eu gosto de música clássica e ele de sertanejo, eu não sou adepto à festas e bebidas e ele adora, gosto de filmes de drama e ele de filmes de comédia, ou seja, água e vinho! Contudo, ele me trouxe uma grande lição, às vezes a gente passa um tempo desligado da gente mesmo e, às vezes é bom levar um choque na auto estima, por quê mesmo sem estar me envolvendo com aquele Deus grego, continuei na academia e me apaixonei por musculação, algumas pessoas disseram que meu corpo mudou um pouquinho e eu já sinto a diferença no espelho. Durante a avaliação ortodôntica, descobri algumas cáries e a necessidade de fazer um serviço de funilaria na minha boca, inclusive a extração do bendito supranumerário que surgiu há dois anos no céu da minha boca e eu nunca liguei, erro grotesco, pois ele estava prejudicando a limpeza dos que estavam próximos a ele.

A maior lição que tiro disso, é que jamais deveria ter ficado preso a mim mesmo, fingindo estar feliz com o que eu via, aliás, se eu estivesse mesmo, eu não teria procurado uma academia, tampouco um dentista após aquele beijo maravilhoso. É necessário, hora ou outra que despertem em nós a vontade de ficar bem, mesmo que ao final seja pra gente mesmo.

Matheus Berocal
Enviado por Matheus Berocal em 30/01/2020
Código do texto: T6853879
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