Um texto que Mudou Minha Vida

Há mais de 20 anos, li um artigo do Professor Stephen Kanitz na Veja (acredite, naquela época a revista era legível, não o discurso direitista de hoje), que foi tão bom que lembro até hoje, foi e é fundamental na minha vida. Nele, o Professor falava sobre a importância de constituir reservas para lidar com três fatores principais que decidem a vida de famílias: saúde, relacionamentos e vida econômica. Não consegui achar o artigo na internet, vou escrever os conceitos que ficaram, acho muito importante pensar sobre eles.

O primeiro e mais importante fator é a saúde. Sem ela, tudo na vida fica prejudicado. Basta pensar que uma simples gripe muitas vezes deixa você de cama, incapaz para trabalhar, imagine então um problema mais sério. Há muitos problemas de saúde que não se pode prevenir, acidentes e doenças que vêm do nada. Mas há muito que se pode fazer para evitar grande parte delas. Muitas ações não custam nada, envolvem atitudes para uma vida saudável, como boa alimentação, moderação ou não tomar álcool, não fumar, fazer exercícios. Não é preciso ser um atleta, mas 30 minutos de algum tipo de exercício por dia, ainda que caminhadas, fazem toda diferença na disposição e para manter a mobilidade na velhice.

Com toda certeza, o que se fizer de preventivo é melhor do que qualquer tratamento, pois economiza sofrimento. Não se cuidar não é atitude de livre arbítrio que só afeta a própria pessoa. É uma postura profundamente egoísta, que pode resultar para a família as dores de uma morte súbita evitável, ou, muito pior, pode condená-las a tratarem de quem não se cuidou por anos, com recursos que muitas vezes não têm e determinar a infelicidade dos próprios familiares.

O texto aumentou meu alerta e meus cuidados com saúde. Eu sempre gostei de fazer esportes e de uma vida saudável, e passei a fazer atividade física como um seguro para chegar bem à velhice, quero viver e bem até mais de 100 anos se der. As condições físicas que tenho refletem o que fiz no passado, o que eu fizer de agora em diante decidirá o futuro. Cada dia que dá preguiça, lembro disso.

A parte que pode custar na saúde é assistência hospitalar. Digo isso porque há a assistência pública gratuita e muita gente não a avalia, prejulga que é ruim, o que pode ser um erro custoso. Como tudo no Brasil, a saúde pública é desigual. Alguns lugares não têm nada, outros têm boa assistência, por incrível que possa parecer. Em todos eles, a hotelaria assusta, ná filas, porém, em muitos há pronto-atendimento de boa qualidade de todas especialidades. Pense bem se há essas alternativas ou se precisa de um plano de saúde particular, pois um pode facilmente comprometer muito de sua renda familiar. Senão houver saúde pública, fazer um bom plano de saúde pode salvar sua vida, pois uma internação hospitalar tem custos altíssimos, pode quebrar uma família.

O texto me fez pensar nisso e fui cuidadoso de escolher planos que pudesse pagar. Meu pai teve câncer e não foi possível salvá-lo. Ameniza a tristeza pensar que o plano de saúde que eu pagava para ele permitiu que tivesse bons médicos e cuidados que reduziram o sofrimento dele e que pudemos passar por esse tempo difícil sem que o futuro da família fosse comprometido.

O segundo fator, a questão de relacionamentos pessoais é das mais capazes de destruir vidas ou alavancar o futuro. É muito difícil construir uma vida com alguém. Exige muita conversa e planejamento para dar certo.

Porém, a alternativa de não pensar em nada e seguir só as emoções muitas vezes define que casais que se gostam não consigam ser felizes juntos e que a família não atinja seus objetivos de criar e educar os filhos. Cada vez que um casal se separa, além dos danos emocionais, a vida econômica sofre um baque. Se as separações forem litigiosas, grande parte dos bens da família pode ser consumida com advogados ou perdida com longas brigas judiciais. Pessoas que têm muitos casamentos e separações frequentemente perdem muito do que conseguiram conquistar nas vidas. Algumas vezes, não se recuperam.

Estabelecer antes do casamento o regime, como vai funcionar a vida a dois, como entrarão na relação os bens de cada um, quem vai arcar com que despesas e os termos do que acontecerá se não der certo não é não amar, nem torcer pelo fracasso. É a maneira mais inteligente de se evitar que problemas de dinheiro estraguem o amor (se der certo), e de prevenir e de minimizar as perdas dos dois lados, facilitando o recomeço, caso contrário.

Também os filhos entram em relacionamentos. Se o casal tem filhos no início da vida, quando não tem onde morar e o suficiente para dois viverem, com mais gente faltará mais. É certo que esperar demais pode tornar a gravidez mais arriscada, no entanto, pensar juntos sobre isso e esperar a estabilidade na vida a dois antes de ter filhos pode ser um meio termo fundamental na vida.

Eu e minha esposa namoramos, moramos juntos, depois casamos, fizemos as viagens que queríamos e amadurecemos antes de ter filhos. Tudo com muita conversa. Cada um tem seu tempo, acho que respeitar o nosso, tomar decisões pessoais compatíveis com o que podíamos fazer em termos de grana ajudou demais a dar certo.

O terceiro fator que pode determina o futuro de uma família é a vida econômica. Costuma ser verdade que se o dinheiro sai por uma porta, o amor sai pela janela. Muitas vezes, pessoas que se amam não conseguem superar anos de desemprego de um ou dos dois lados, ou a quebra de um negócio próprio, endividamento impensado, ou mesmo investimentos mal feitos. Ser cauteloso com o dinheiro que ganha é, em geral, ótima dica.

Fazer faculdades ou pós-graduações, trocas de empregos, grandes compras como carros e imóveis ou empreender são coisas para fazer contas e pensar bem antes de decidir. Não são coisas que se faz todo dia e podem comprometer anos de vida.

No artigo que iniciou o texto, o Professor Kanitz falava da importância de construir reservas financeiras. Ele dizia que o dinheiro não pode comprar tudo, e é plena verdade, no entanto, ter reservas financeiras ajudará a resolver problemas em qualquer uma dessas esferas.

Na questão saúde, reservas ajudam a pagar ações preventivas ou custos de tratamentos. Nos relacionamentos, ter reservas permitirá reconstruir a vida dos dois lados, caso haja uma separação, ou fazer viagens, viver melhor juntos se não houver. Na vida financeira, recursos guardados facilitarão viver durante um período de desemprego ou recomeçar um negócio ou investimento mal sucedido.

Em tempos em que as pessoas vivem mais e as aposentadorias e pensões são baixas, poupar é a melhor e única forma de ter tranquilidade no fim da vida. Não confie que o governo vai te ajudar, qualquer que seja ele, falha muito e cumpre poucas promessas.

Eu li o artigo numa época em que eu e minha esposa trabalhávamos e podíamos juntar alguma coisa. Nem consigo descrever o quanto foi importante essa pequena reserva para poder curtir os tempos de bonança, e mais ainda, para resistir nos anos de desemprego na troca de carreiras e quando o sonho de negócio próprio não deu certo. A lição que aprendemos foi que agora temos de poupar para que a velhice seja boa.

Em minha vida, conheci dezenas de pessoas que, se tivessem lido o mesmo artigo e entendido seu sentido, poderiam ter sido muito mais felizes, e algumas que foram muito infelizes por nunca terem olhado para frente e planejado. Não existe verdade absoluta, talvez esse longo texto em nada ajude para muitos dos que chegaram até aqui na leitura. Entretanto, se para uma só pessoa fizer só um pouquinho da diferença positiva que o artigo do Professor Kanitz fez na minha, já valeu muitíssimo a pena. Que seja você ou alguém de quem você goste!

Paulo Gussoni
Enviado por Paulo Gussoni em 31/01/2020
Reeditado em 13/01/2022
Código do texto: T6855202
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