Superiores?

No clássico e premiado curta-metragem “Ilha das Flores”, dirigido pelo cineasta Jorge Furtado, material amplamente utilizado por educadores ambientais desde o início da década de 90, uma comparação é repetidamente realizada do início ao fim do roteiro, o que basicamente nos diferencia dos outros animais é o fato de possuirmos telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor. Já o historiador e escritor israelense Yuval Harari, autor de “Sapiens, uma breve história da humanidade”, explica em uma palestra no canal Tedx que a nossa capacidade de cooperação em larga escala com indivíduos que não conhecemos(Os chipanzés, nossos parentes mais próximos, também possuem essa habilidade, mas apenas com indivíduos conhecidos) é um dos principais fatores que permitiu que nossa espécie se destacasse tanto das outras. Mas o professor e filósofo Clóvis de Barros descreve de forma resumida a distinção feita por Rosseau entre o homem e os outros animais, segundo a qual estes não possuem a liberdade de escolha, pois o instinto predomina e os rege. Um tigre não pode optar por uma dieta vegetariana ou comportar-se como um coelho, não é mesmo?

Acontece que, quando nos sentimos convictamente superiores às outras formas de vida, todas essas características, anatômicas, comportamentais e cognitivas apenas contribuem para agirmos de forma tão destoante das relações ecológicas existentes entre todos os seres que constituem nosso planeta. Afinal, qual outro animal é capaz de destruir a própria casa, envenenar sua comida e contaminar a água que irá beber?…. Superiores?…. Até as samambaias devem rir de nós.

Milhares de anos de evolução foram necessários para que hoje consigamos fazer escolhas, entretanto, estas contêm uma extraordinária responsabilidade, pois a sobrevivência de inúmeras outras espécies dependem direta ou indiretamente delas.

Talvez você esteja se perguntando, mas que tipo de escolhas são essas? Pode parecer exagero, mas, basicamente, quase todas. Um pequeno exemplo, escolhemos comprar uma garrafinha de água na praia, mas, do mesmo modo, escolhemos descartá-la de qualquer maneira; o estômago de uma baleia pode ser o destino final do recipiente. Matou a sua sede e o grande mamífero também.

Bem, mas para não estendermos demais, as perguntas essenciais são, qual o nosso papel como espécie? Estamos muito distantes de cumpri-lo?

Acredito que a humanidade se encontra naquele estágio entre conhecimento e sabedoria, cuja diferença foi brilhantemente sintetizada pelo canadense Charliton Albert, “Conhecimento é saber que o tomate é uma fruta, sabedoria é saber que ele não deve ser usado em uma salada de frutas”.

Humberto Brusadelli
Enviado por Humberto Brusadelli em 04/02/2020
Reeditado em 30/10/2020
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