Diário de Bordo (Um breve ensaio sobre a Mentira.)

Diario de Bordo (Um breve ensaio sobre a Mentira.)

A História das civilizações está repleta de intrigas, assassinatos, traições, e um monte de outras quinquilharias que fazem o escopo da vida em sociedade. Quero presumir que antes de nos querermos como civilizados, ainda morando nas cavernas, recém descidos das arvores, tambem ja traiamos e trapaceávamos alegremente os nossos semelhantes, roubando uma maior porção de comida, seduzindo a troglodita do troglodita ausente, nessas ações da empolgação cotidiana, que, como se vê, nos acompanha desde sempre.

Depois que um nosso ancestral, mais esperto que os demais, inventou de mediar o terror da existência, (que não deveria ser nada fácil, convenhamos) criando a primeira igreja, e cobrando presentes de seus contemporâneos para aplacar os elementos da natureza, ficou estabelecida a pratica da enganação validada pela crenca religiosa, coisa que Nietzsche já havia identificado há mais de um século.

Pra praticar socialmente a arte da esquiva e do engano, inventamos os nossos muitos jogos, nos quais, seguindo normas pré-estabelecidas a mentira e a dissimulação são aceitas tacitamente, e o enganador é aplaudido por sua maestria na arte de bem enganar os demais.

Já li em algum lugar que o cimento que mantém a nossa sociedade de pé é a menina de pernas curtas, a charmosa Mentira, irmã gêmea da Hipocrisia. Sabendo disso então, é deveras interessante o quanto nos sentimos magoados e feridos, quando somos traídos e enganados; ficando o evento muito pior quando o maleficio nos é causado por alguém próximo, de quem não estaríamos esperando tal falseta.

A mentira e o jogo de cena é tão fundamental para a existência de nossas instituições que governo nenhum sobreviveria sem sem esses dois pilares da vida humana; nenhum banco conseguiria funcionar, os jornais inexistiriam - seria um imenso deus-nos-acuda, um caos de proporções inimagináveis.

Desse pântano mal-cheiroso de mentiras, enganos e falcatruas, não escapa senhor ninguém: nossos filhos aprendem a mentir logo cedo; quem ontem nos jurava amor eterno, hoje passa do outro lado da rua, de rosto virado; compromissos de honra são usados para acender fogo de churrasco, e por aí segue o féretro das inconsistências direto para o campo santo das causas impossíveis.

Isto posto, visto que me é impossível clamar aos céus para acabar com a mentira e a injustiça, pois tal pedido implicaria no colapso de nossa maravilhosa vida em sociedade, sobra-me o direito inalienável de mandar para os quintos dos infernos os mentirosos de todos os matizes, os escroques ladravazes, e os espertalhões requenguelas.

Putaquiospariu! Como eu odeio embustes e embusteiros!

Terras de Olivença, na exata metade do mês de Fevereiro de 2020.

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 15/02/2020
Código do texto: T6866980
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.