A VELHICE

                  Tenho ouvido algumas pessoas dizerem que a idade avançada tem lá suas vantagens. Quem diz isso se engana porque quer. A não ser o privilégio de furar as filas dos bancos, não descobri qualquer outra.

                  Não vejo vantagem alguma em ter que tomar, diariamente, remédios para controlar a pressão, o colesterol, os hormônios da tireóide, e para os vários achaques que acomete todo aquele que já passou dos sessenta.

                  Bela idade os sessenta! Sim, bela idade. Muito mais bela porém, é a idade dos trinta ou, melhor ainda, a dos quinze. Ignoro se o homem tem alguma vaidade com o seu aspecto físico. Já a mulher, por mais que negue, tem-na bem acentuada. Como é possível sentir prazer em olhar para si mesma e ver os cabelos brancos, os dentes postiços, a flacidez do corpo, as varizes, os joanetes... Isso sem falar nos muitos "ites" que surgem a cada dia: artrite, bursite, tendinite, otite, rinite, e não sei quantos "ites" mais. Antigamente uma mulher com "it" estava com tudo em cima, hoje é justamente o contrário.

                  Cá pra nós, eu não me sinto nada orgulhosa quando me encaro no espelho. Dá é um desânimo muito grande, sobretudo quando você sabe que amanhã - no próximo dia, ou no próximo ano - tudo estará pior. Não, não. Não sou pessimista. Sou é realista.

                  Ah! E as alegrias de ser avó? " Que Mané é esse de avó?" Muito mais gostoso é sentir os olhares do sexo oposto quando você passa com seu corpo enxuto e as pernas bem torneadas. Qual mulher não se sente lisonjeada com uma cantada? É uma prova de que está agradando. Não me venham com falsos pudores dizer - Deus me livre - ó santa hipocrisia! Não é preciso cair na cantada, só alimentá-la para vaidade do seu ego. Trata-se, tão somente, de alguns momentos de prazer, um simples flerte sem consequências. Um toque de mão, uma troca de olhar... aquele arrepio subindo pela espinha... São pequenos nadas que tornam a vida mais gostosa.

                  Não, decididamente, não gosto de estar ficando velha. Ninguém gosta de velhos, nem tem paciência para aturá-los, nem mesmo os filhos. Eu, que o diga.

                  Faz muito tempo que aquela musiquinha da bossa nova deixou de ter algo a ver comigo:

                 "...ela é carioca, ela é carioca,
                  olha o jeitinho dela andar..."