DESENLACE.

Ser, estar e permanecer sozinho( não confundir com solitário) pode, para alguns, significar uma situação de pavor e completo desespero. Principalmente, quando nos vemos nesse estado de solidão após anos e anos de uma vida compartilhada. De fato, esse monstro assustador do qual tantos temem chamado, solidão; amedronta. Assusta quase tanto como quando rompemos, por exemplo, os laços com a família onde nascemos e crescemos; pais, irmãos, etc e partimos para a jornada de uma vida a dois. Claro, com a significativa diferença do estado emocional das situações em questão. Quando nos arriscamos numa "aventura" a dois, imbuídos na crença de que unidos por "Deus", inseparáveis pelos homens, o eterno nos parece verdadeiro. Mesmo que a união sacramentada não tenha sido exatamente, o esperado pelos prometidos à eternidade, quando nos deparamos com o "monstro solidão", partilhamos com os fantasmas do medo, nossas atividades diárias. Sentam-se à mesa conosco, e dividem a mesma cama. As paredes parecem ganhar rachaduras, o chuveiro pingando ganha proporções de enchentes e alagamentos, o lado vazio da cama king, vazio permanece por força do hábito em respeito a uma lembrança há muito, fora da realidade. No café da manhã, uma única xícara sobre a mesa, assim também como no almoço, um único prato. Essa fase, eu diria, de amadurecimento ( mesmo que pela dor ) vai nos fortalecendo e nos fazendo acreditar cada vez mais, de que somos inteiros. Mesmo que tenhamos, pela metade, o coração. Um dia após o outro, dissipada a fumaça ofuscante, mostra-se a vida com outro colorido. Passado o medo, as lutas; expulsos os fantasmas...renascemos e conseguimos, no espelho, enxergar a própria imagem. E, finalmente, nos conscientizamos de que insistir numa relação onde o peso da convivência, na balança, já não equilibrava e comprometia a receita do bolo de festa, não valia mais à pena. A partir daí, há toda uma reorganização da vida e tomamos consciência da importância do conviver, pelo menos, por algum tempo, em nossa própria companhia. Conviver com você mesmo significa se dar conta dos seus gostos, dos seus sentimentos, dos seus sonhos e desejos.

Nas pequenas coisas, uma redescoberta; na sua rotina, fazer seus próprios horários, escolher seus próprios livros, ouvir suas canções preferidas, cozinhar a comida que agrada ao seu próprio paladar. Tantos pequenos detalhes de uma grandiosa importância para o autoconhecimento. Depois, então, de todo esse processo, desse estágio de aprendizado sobre nós mesmos, certamente, estaremos melhor preparados para novamente, compartilhar experiências, novidades, alegrias, descobertas, tristezas, num prazeroso trocar de emoções e interesses mútuos.

Elenice Bastos.