Quarta-feira

Marchinhas tocando, os vizinhos enfeitam as casas, desde cedo a rua fica animada, já é carnaval e tudo parece ter se transformado em brilho. Cada ano surge uma tendência nova, um passinho divertido, uma fantasia criativa, até mesmo uma atração inédita, as coisas ganham vida.

No entanto, nem tudo são flores, me esforço sempre para manter um espírito leve e alegre, mas sempre existe algo que me faz apática. Essa época do ano me trás uma maré de sentimentos ruins e ver que todos estão festejando não me faz muito bem, prefiro ficar em minha concha.

É como se a minha vida estivesse repleta de "quartas-feiras ingratas", quando a festa está boa demais vem a quarta-feira de cinzas e tudo se acaba. A minha alegria dura pouco, os momentos felizes são tão efêmeros quanto os bloquinhos, a cabeça é tão cheia quanto o Galo da Madrugada e todos os anos a cena se repete.

Parece até injusto da minha parte ficar em casa vendo a multidão sendo feliz, mas a folia não me contagia tanto, um dia já fui uma criança que amava a alegoria carnavalesca, sinto saudades do tempo em que os sorrisos eram sinceros, hoje fazem parte da fantasia que chamo de "Eu".

Já é tradição, o meu humor ser abduzido nesta festividade, mas decidi que do próximo ano não passa, vou festejar sim, doa a quem doer! Por enquanto permaneço tentando contato com os amigos imaginários que deixei adormecidos no passado, cantarolando o novo hit do momento e passando no rosto o meu glitter metafórico, bom carnaval e que venha logo a quarta-feira ingrata, assim posso deixar essa concha de uma vez.

Brenda Nascimento
Enviado por Brenda Nascimento em 23/02/2020
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