Porto Alegre - Maldita Cidade Fantasma

Faz um puta frio aqui em Porto Alegre. Eu olho pela janela e não vejo pessoas andando na rua. Está nublado. As árvores da praça em frente à minha casa balançam. O vento gelado dos últimos dias insiste em soprar.

Faz um puta frio, e eu coloco o mesmo casaco fedorento de sempre e saio. Quero ver alguém, quero saber o que está acontecendo. O vento gelado bate no meu rosto e eu pergunto: "Onde estão todos?"

Faz um puta frio e eu passo pela esquina e vejo um mendigo, o mesmo mendigo que sempre está ali porque não tem para onde ir. Lembro da frase do ministro: "há prosperidade!" Sei que não há, pelo menos para mim e para o mendigo. Sigo em frente; quero encontrar alguém, quero ter certeza de que não estou só, eu e um mendigo em uma cidade fantasma.

Alguns carros andam pela rua, olho para eles mas seus vidros são todos escuros; não vejo ninguém, só vejo carros.

Continuo andando e passo ao lado de um cão, um pobre cão sem dono que treme de frio. Sigo em meu caminho, não quero encontrar cães, quero encontrar pessoas.

Faz um puta frio... Sei que é o frio, é tudo culpa do frio. "Ah, se fosse verão!" eu digo em voz alta.

Lembro que no verão todos desaparecem também, todos vão para a praia ou se escondem para fugir do calor. E faz um puta calor no verão! Tudo continua igual então, sei que tudo continuará igual nesta maldita cidade fantasma.

Provocador
Enviado por Provocador em 09/10/2007
Reeditado em 09/10/2007
Código do texto: T687426
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