Ananas Paradyse

Termino de escrever no computador palavras cuspidas, doloridas, que arrancam sangue mesmo. O poeta é um fingidor, dizia uma pessoa. No meu caso, contudo, a dor não é fingida. Meus textos são autobiográficos, sobre fatos verídicos, aviso. E causam repulsa, alerto. A podridão e as entranhas mais profundas e fétidas são recorrentes em suas letras derramadas. Sobre o que escrevo ? Avance, caro leitor, estimada leitora, por esta viagem sem medo pelo mundo de Ananas Paradyse e descubra por si só. É o desafio que lhes lanço!

Como dizia, terminava de escrever e, então, transcrevia essas ideias, que refletia, enquanto caminhava de um lado para o outro na cozinha e tomava uma caneca de café com leite quente, neste frio de rachar de julho. O vento frio lá fora é um açoite. Aqui dentro, calor também não há. É preciso se aquecer. A bebida ajuda a pensar. Reflito e, num estalo, brilha uma luz, assim como em Ananas Paradysebrotam mais de dez mil cargos de chefia, em época de escolhas públicas.

Ananas Paradyse é um local de fato maravilhoso. Suas praias tem mais poluição. Seus campos, mais devastações. Os pássaros que aqui passeiam não sobrevivem, porque são mortos como em nenhum outro lugar.

Fora isso, os chefes de Paradyse, volta e meia, envolvem-se em escândalos de chefia éticos. Na verdade, parecem não saber o que é moral ou nunca ouviram falar. Confundem o que é do povo com o que é seu. Não investem na formação do povo, para conduzi-lo a rédeas curtas. Os mestres, pilares da nação e do Estado, não são valorizados.

O circo é armado diariamente para todos, onde há espetáculos formidáveis. Aranhas comem fast food, exército preto e branco faz vizinho dançar tango, marionetes nas telas entretêm plateia anestesiada. Assim, o rebanho é guiado e sempre os mesmos chefes são escolhidos.

Não sou contra crenças. Cada uma deve ser respeitada, mesmo quando não existe, se é cético ou desvinculada de roupagem. Todavia, não deve se misturar crença com política. A massa crente na sua fé com as melhores intenções é conduzida por um líder espiritual, ligado aos interesses de grupos de chefia, escolhendo-os.

Com o dinheiro dos cargos de chefia novos, seria possível investir, justamente, na Educação e outras áreas. Todos os níveis de organização de chefia de Paradyse, na verdade, devem agir juntos, cooperando um com o outro, articulada e integradamente, com a participação do povo. Deve haver um espírito de união, todos por um e um por todos! Uni-vos, paradysianos! A nação junta vibrando cada emoção! Uma verdadeira equipe solidária, deixando as diferenças de lado! Mas, cada um só quer saber de si…

Em bandas mais frias, corujas piam à noite por essas terras. Observam atentas os passos das pessoas, mas o que ocorre é que estão no alto das árvores paradas, sem fazer nada concreto. Piam, piam, piam! É só o que fazem. Não dizem nada, não oferecem nada, como era de se esperar. Apenas, talvez mais uma parcela da eternidade, que se perpetuará numa ditadura mascarada no tempo. E, depois, de dois anos, voarão para vôos mais altos, deixando somente suas sombras.

Já em terras mais quentes, parece estranho o que vou dizer, mas não é. Não deve haver paz. Explico. Apesar de dizerem que é possível comprar pão à noite, melhor será comprá-lo fresco, pela manhã, antes de ir para o trabalho ou para escola, em segurança, assim como ao retornar, quando as pombas voltam ao pombal ao entardecer, como os sonhos que não se vão na velhice, diferente do que versificam por aí.

Ananas Paradyse, terra das oportunidades! Venha para cá e aproveite! Fure a fila do banco, pare na vaga do idoso e, após ler esse manifesto, vá jantar com a família, comendo pizza em frente à televisão. Com isso, se igualará aos chefes. Mas, lembre-se! Maus chefes é o preço da omissão! Cidadãos paradysianos, acordem! É preciso ter voz ativa!

São Paulo. Julho, 2012.