Não é fácil se livrar de lixo alheio.

Jonas Tibiriçá tinha uma casa pequena, morava sozinho. Tiba gostava de ferramentas de marcenaria e de soldagem. Fazia barulho a noite inteira com sua inseparável makita_uma velha ferramenta de cortar metais_ atormentava os vizinhos. Voltando do trabalho, as seis da tarde ele deparou-se com um fogão jogado no lixo. Os olhos de Jonas brilharam, veio uma sensação de borboletas no estomago, todo potencial que aquele fogão velho e cheio de fezes de ratos teria em suas hábeis mãos. Corta-lo em pedaços, fazer cunhas de aço, usar o vidro em alguma invenção ou adaptar a sua necessidade. Jonas, funileiro que só ele, idealizou diversas maravilhas que o fogão poderia lhe trazer.

Em casa, já com a peça de aço e vidro, ele a deixou num canto, perto de suas gaiolas de passarinhos. Foi ler um livro de mecânica para iniciantes, da escola técnica. Meses depois, bateu em sua porta o inspetor sanitário, era domingo. Jonas se escondeu sem fazer barulho. Ele vira o seu fogão, agora servindo de mesa para uma lamparina velha, que também encontrara no lixão. O sanitarista entrou no terreno de Tiba, colocou uns grãos na sua caixa d'agua_Objeto também proveniente de um lixão, perto de casa_ e foi embora.

O funileiro se perguntava: Porque é tão difícil se desapegar do desapego alheio?!

Como a pergunta permanecia sem respostas, ele fez o que faz com tudo. Anotou a pergunta num papel, guardou numa gaveta de perguntas e foi dormir.Tiba tinha um lixinho particular de perguntas sem respostas.