O REJEITADO

        (PEQUENAS  CRÔNICAS  DO  COTIDIANO)
                                09/03/2017


Ele agonizava à beira da estrada.Atirado em meio aos arbustos reunia o que ainda lhe restava de sobrevida, travando uma luta contra o formigueiro que edificara-se bem ao seu lado.
E as pessoas cruzavam por ele, pisando o frio asfalto de suas indiferenças.
Meus botões, enxeridos como sempre, confabularam-me:
-Tás vendo?
Frio senhor das cálidas manhãs da rua Trajano Grácia !
Indiferente voce também ,né ? Gordo !
Insensível, cruel, desumano...
Tentei argumentar...Nem me deram tempo.
Prosseguiram nas divagações:
-Pense nas histórias vividas sobre este sofá ! Quantos momentos felizes, quantas angústias, quantas tristezas, quantas brigas de família...
Quanta pipoca consumira-se sobre seu assento quando ainda robusto !
Quanta piazada chata catucando-se, acotovelando-se na disputa por um lugar frente à "Plim plim" ?
Quantos resmungos da velharia chata, quantos amassos ,quantos desabafos, quanta fofoca, assentaram-se sobre o pobre coitado?
E agora...Neste estado de abandono, à mercê de titica de passarinhos, já que acima dele, imponente, louva os céus um pé de araça, carregadinho de frutas?!
Diz aí, gordo insensível. Temos, ou não , razão em nossas ponderações ?
Ah ! meus botões...Sempre tão atentos, tão críticos !
O que lhes dizer ?
Bundas ingratas, injustas e insensíveis que um dia esparramaram-se sobre a maciez do moribundo (ou seria, falecido ? )
Deviam tê-lo cremado. A natureza agradeceria e voces, meus botões, não teriam enredo para suas aporrinhações.
Ah ! botãozada, Vão catar coquinhos na descida. Eu vou para o meu trabalho que o tempo urge !
Mas, que deu um dózinho do sofá abandonado ,ah ! isso deu.

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