Com quem aprendi.

Começo este singelo texto pedindo desculpas aos meus queridos leitores por estar falhando nas últimas semanas. Não que eu tenha me esquecido de ecrever algo para o site, mesmo após ter tido um comentário absurdo em uma das minhas crônicas. É apenas uma questão de polidez. Afinal de contas eu tive uma educação exemplar. Posso dizer até que sou uma privilegiada. A maioria das pessoas foi educada pelos pais e pela escola, uma forma antiga e ultrapassada que já provou ser falível e prejudicial ao desenvolvimento do ser humano. Eu fiz parte de uma espécie de experiência sociológica que demonstrou resultados expressivos. Uma alternativa realmente vitoriosa. Na verdade, sou o produto de uma educação promovida por um triunvirato virtuoso, uma santíssima trindade, um trio ternura, formado pela empregada, pela televisão e pelo cachorro. Coisas do mundo moderno, em que os pais têm de trabalhar de sol a sol para prover os filhos de todas as suas necessidades e também das melhores coisas da vida, como ter uma empregada, uma televisão e um cachorro. Tive lições realmente valiosas observando meus três mestres e senhores.

Da empregada aprendi a me submeter à humilhações, ganhar pouco, ficar apenas com as sobras e limpar coco de cachorro, tudo sem reclamar.

Com a televisão aprendi a mentir, a me preocupar apenas com a aparência e a acreditar que esta vida de merda que a gente vive só faz sentido se for delirantemente fantasiada. O bem vencendo o mal, o destino inexoravelmente a nosso favor, todas as injustiças exemplarmente corrigidas e por aí vai.

Do cachorro, bem, do cachorro foi de quem eu retive as maiores e mais fundamentais lições. Meu caráter foi quase que totalmente forjado observando o comportamento deste que é o nosso mais fiel amigo. Começando por aí: fidelidade. Com ele também aprendi a sentar quando solicitado, a dar a patinha quando necessário e fingir-se de morta quando conveniente. Aprendi a abanar o rabo para quem me sustenta e a perdoar todas as suas agressões e tiranias. Aprendi que banho é uma coisa hedionda e que é necessário marcar o nosso território incessantemente, todos os dias de nossas vidas. Aprendi a montar nos outros para mostrar quem manda. Aprendi a latir quando as pessoas fingem não notar a minha presença.

Como vocês podem ver, a merda esteve presente em todos os momentos da minha formação. E se você conhece um pouco da vida, sabe que no teatro a merda é sinal de boa sorte. Mas não fique com inveja, por favor. Ser educado pelos pais e pela escola não é assim o fim do mundo. Eles também sabem muito bem fazer suas cagadas