Caverna do Dragão.

Em meus tempos de menino, eram contadas as pessoas que tinham TV em casa, aqui em Eldorado dos Carajás. A maioria, preto e branco, algo surreal nos dias atuais.

Não dispunhamos de energia elétrica. A única fonte de energia eram alguns geradores nas casas dos mais abastados, dos ricos da pequena vila.

A molecada pobre, da qual eu fazia parte, tinha a incumbência de vender picolés, bolos, castanha-do-Pará, etc, aos garimpeiros que viam de Serra Pelada em "paus-de-arara".

Depois da venda nos reuníamos na intenção de encontrar uma casa com a TV ligada, pra assistir "Caverna do Dragão". Nos acotovelávamos nas janelas das casas, uns por cima dos ombros dos outros, muitas vezes com o sol a pino. Os menores, de baixa estatura, sofriam na ponta dos dedos. Na maioria das vezes, quase no final do desenho, a dona da casa, incomodada com a balbúrdia que fazíamos, desligava a televisão e fechava a janela na nossa cara. Saía todo mundo cabisbaixo, desconfiados, tristes por não poder ver o final do episódio e naquela dúvida cruel, sem saber se a galerinha do desenho (Eric, Bobby, Presto, Sheila, Diana e Hank) tinham conseguido voltar pra casa...

Tempo bom aquele...

Chico Rabelo
Enviado por Chico Rabelo em 13/03/2020
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