MAIS UM DIA DE ANGÚSTIA NA ITÁLIA

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Estão aparendo, neste Recanto, textos onde se afirma que na questão da pandemia há muito exagero e que, afinal, a provocada pelo Covid-19 não passa de uma normalíssima gripe. Entretanto, se assim fosse, nenhum governo europeu estaria preocupado ao ponto de fechar as suas fronteiras aos outros cidadãos da Europa anulando, de fato, o Acordo de Schengen que garante a livre circulação das pessoas entre os Estados que aderiram ao protocolo. Os resultados das várias medidas que foram tomadas estão diante dos olhos de todos: quedas das bolsas e dos PIBs, milhões de pessoas impossibilitadas de sair de casa, hospitais lotados, comércio agonizante, turismo moribundo, explosão da dívida pública e, em perspectiva, desemprego generalizado.

Do ponto de vista sanitário a situação pior é aquela registrada na Itália, com mais de 30.000 contaminados e 3.000 óbitos (ontem foram 475 vítimas) que levariam a taxa de mortandade a 10%, bem maior daquela observada na China. Como se explica isso se na Alemanha a mesma taxa é imensamente menor? Não existe uma resposta unívoca, mas as explicações são mais de uma. Antes de tudo é diferente o sistema de fazer os cálculos: enquanto na Itália se um paciente, junto com outras patologias, tiver também o coronavírus e vier a falecer, ele será considerado vítima do Covid-19 e é evidente que a grande maioria dos idosos apresenta um quadro clínico caracterizado por outros morbos típicos da idade, em particular, doenças cardíacas e/ou vasculares, diabete e hipertenção arterial.

Já na Alemanha são contados apenas aqueles que morrem exclusivamente pela ação do vírus e esse número é objetivamete pequeno. No entanto, seria errado pensar que as pessoas mais novas não correm riscos, pois já se viram indivíduos com menos de 35 anos e sem outras patologias falecer em pouquíssimos dias, e é de ontem a notícia que um jovem de apenas 29 anos está lutando contra a morte num hospital de Roma.

Parece que a situação na Espanha está se deteriorando rapidamente e, só em Madrid, morre uma pessoa em cada 16 minutos!

Outro elemento que pode alterar os dados é o número de amostras coletadas que na Itália foram poucas se comparadas ao número de pacientes sintomáticos. Uns especialistas acreditam que o número real de pessoas contagiadas fique entre 150.000 e 300.000; se realmente essa fosse a verdade, a mortalidade seria bem menor e basicamente igual àquela registrada no resto do mundo. Mesmo assim, em consideração da quantidade enorme de cidadãos atingidos pela doença, até um percentual modesto de pacientes com dificuldades respiratórias pode por em xeque o sistema sanitário de uma nação desenvolvida. Como já expliquei no meu artigo anterior intitulado "Apocalipse na Itália", acontece que os hospitais não conseguem mais dar conta de tantos doentes ao mesmo tempo e, se essa epidemia não diminuir logo de intensidade, não haverá mais camas para receber novos pacientes. Para piorar, acabou de sair um dado que é de arrepiar, ou seja, na região Lombardia -a mais afetada pelo contagio- cerca de 8% dos médicos e dos enfermeiros consta ser positivo ao vírus e não faltam exemplos de médicos que faleceram nesses últimos dias. Sem contar que muitos outros pacientes graves (cardiopáticos, oncológicos, etc.) não podem ser atendidos por falta de condições nos hospitais onde, inclusive, correm também o risco de apanhar o coronavírus.

Já sabemos que os idosos, devido seu sistema imunológico estar mais comprometido, são as vítimas preferidas pelo Covid-19. No entanto, até agora nenhuma mulher com menos de 40 anos faleceu e em cada 100 idosos mortos, somente 30 são mulheres. O que significa isso? Uns médicos dizem que as mulheres seriam protegidas pelos seus estrogênios mas, depois da menopausa, a concentração plasmática desses hormônios caí significativamente. Outra teoria afirma que o cromossoma X explica uma ação ainda desconhecida contra o micróbio. Mas a explicação mais simples e plausível é que o estilo de vida das mulheres é mais saudável que o dos homens. É muito importante observar que as fumantes são poucas, se comparadas aos fumantes, e os dados recolhidos até agora demonstram que quem fuma tem uma probabilidade até 300% maior de desenvolver uma pneumonia fatal se comparado àqueles que nunca tocaram num cigarro.

Um grupo de cientistas demonstrou existir uma correlação positiva entre a poluição atmosférica e os óbitos totais. Por outro lado parece que o vírus prefere se desenvolver em climas frescos, com temperaturas entre 5° e 15° C, tanto que seja na Rússia como no Canadá -onde o inverno foi gélido- os casos registrados foram poucos. Se isso for verdade, boa parte do Brasil não irá sofrer os mesmos danos da Europa, desde que os cidadãos se conscientizem do perigo e adotem todas as medidas sugeridas pela comunidade científica internacional.

Em resumo, devemos nos preocupar com essa epidemia? A resposta não pode que ser positiva! Isso, porém, não significa entrar em parafuso e se desesperar, mas deve servir de estímulo para obedecer religiosamente às regras ditadas pelas Autoridades e pela própria consciência.

NOTÍCIA DE AGORA: Hoje, 20 de Março, faleceram na Itália 627 pessoas.

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 19/03/2020
Reeditado em 20/03/2020
Código do texto: T6891664
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