Caveira e Mulher de Roxo no Cemitério da Boa Morte
 
A bisavó, muito católica, ajudou a transportar em sacola comum ossos da Matriz da Piedade para o  cemitério da Boa Morte.  

O da Piedade servia à elite que, defuntos, era enterrada no adro ou capelas laterais.   Na nave principal da Matriz há aquele túmulo nobiliárquico até hoje. Era o tempo da oligarquia que apoiava a monarquia.  

O da Boa Morte fora construído por uma irmandade que possuía o sítio chamado de Boa Vista. Trocaram o nome quando muraram o cemitério que recebeu tal nome, Boa Morte.

O primeiro cadáver sepultado foi de uma escrava depositado ali pelo proprietário  desta.

O cemitério guarda também os restos de um proprietário que sepultou seu cavalo pagando pelo túmulo que queria ser enterrado com seu  animal   tão  prezado.

Era o tempo da República.
 
A oralidade familiar contava em narrativas, mórbidas e macabras, aterrorizadoras os feitos da matriarca.

Nos anos da Ditadura Militar  a  mãe  carregava o menino para ela fazer suas Novenas em prol das Almas. Punha um véu preto na cabeça e seu rosário.  Descia a via do cemitério do início ao fim até o muro, derradeira fronteira com a rua.  Uma vez a criança se  distanciou da figura materna que por si só, com véu negro, rosário na mão e ladainha fúnebre amedrontava.
 
Foi andando até que o coveiro saiu de um túmulo que estava sendo preparado para o próximo defunto. Do lado de fora da sepultura havia uma caveira, o que  assustou muitíssimo o menino. Ele saiu correndo com medo da caveira e do coveiro que supôs ser uma assombração conforme era comum contar às crianças daquela época.
 
Com sua pedagogia do medo, a mãe  levou o menino até o túmulo assustador da MULHER DE ROXO: uma matriarca esculpida sem face e vestindo roxo.

“Criança que se afasta da mãe, a MULHER DE ROXO põe no saco das almas penadas  e traz para o caixão que está ali onde ela está assentada!.”
 
A impressão, a sombra da ação, no  imaginário durou até, em catarse, o  já homem  pintou em tela e óleo uma mulher sem rosto.

Pintou.

E  o quadro ficava defronte à porta de entrada na sala até o exorcismo da psique infantil.

CATARSE feita.
 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 20/03/2020
 
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de 19 de Fevereiro de 1998.
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 20/03/2020
Reeditado em 24/03/2020
Código do texto: T6892584
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