CRÔNICA UFOLÓGICA

O relógio de parede da cozinha marcava menos de dez minutos para a meia-noite.

Havia uma brisa fresca no ar em meio às brasas noturnas de verão. O céu era negro e lindo. Modesto de estrelas, mas lindo. O cardápio da noite paulistana oferecia uma porção com “Três Marias” regadas a um visualmente lindo “Cruzeiro do Sul”. De súbito, uma luz amarelada riscou o céu de modo errante. Vibrei. Foi para o leste e sumiu, num estalo. Não, não era um satélite, tais equipamentos normalmente surgem no céu em horários próximos das vinte horas.

Normalmente, os satélites refletem a luz solar e após alguns minutos desaparecem do “radar” de todos nós.

Fiquei extasiado; doido para comentar o fato com a Carol, que já havia subido para dormir. Ela, normalmente, dá de ombros para assuntos dessa natureza.

Um ET poderia abduzi-la sem que ela sentisse sequer um calafrio, tamanho o seu descaso. Fiquei ainda alguns minutos com os olhos pregados no céu, tentando ver algum sinal da luz. Em vão. Resignado, fui aninhar-me à Carol. Na manhã seguinte, nós pegamos um voo de Congonhas para Confins.

Seguimos de avião até Minas, onde Júlio e Ester nos recepcionariam na pequena Itararé da Serra; uma cidade dista duas horas de estrada do aeroporto mineiro.

O voo até BH transcorreu normalmente e sem turbulências.

Assim que pousamos, alugamos um carro e seguimos os três; eu, a Carol e a locutora do “Google maps” rumo a Itararé da Serra. Devido ao calor intenso, poucos quilômetros adiante, paramos em um pequeno comércio à beira da estrada onde compramos água mineral. De volta à estrada, apenas o céu e a mata nos acompanhavam. Sem motivo aparente, o carro vibrou e “apagou”… por completo. Carol me olhou, incrédula. Paramos no acostamento. Tentei dar a partida no motor, e nada aconteceu. Cocei a cabeça confuso, não sem antes ouvir a alfinetada de minha parceira: — eu bem que te alertei sobre a locadora!

Saí do carro irritado planejando pedir ajuda a algum caminhoneiro, mas nada se via no horizonte da estrada. Por segurança, sinalizei como pude o carro e seguimos por um pequena estrada distante cento e cinquenta metros dali. Todavia, parei devido a um ruído que ouvi bem próximo de uns arbustos.

Carol, lívida, estancou. — O q-que é aquilo, Thiago?! — uma nave discóide acinzentada com cerca de cinco metros de altura e dez de comprimento estava pousada numa clareira e, parados ao lado do sinistro objeto, dois seres loiros e altos vestindo roupas claras e coladas no corpo. Eles conversavam numa linguagem estranha para nós. Em um dado momento, os seres cessaram a conversa e voltaram seus olhares para nós. Carol, muito assustada (sem a sua típica frieza), deu um grito de pavor e quis correr. Inutilmente. Não conseguiu dar um passo.

E, comigo, não foi diferente. As duas criaturas aproximaram-se lentamente de nós e com um movimento de mãos nos “dominaram” e nos levaram nos braços para o interior da nave, que decolou, deixando aquela imensidão para trás.

Postados à nossa frente, e rodeados de equipamentos sofisticados, nos analisaram detidamente. Manipulando um aparelho semelhante a um tablet, acessaram dados que fluíam de vários pontos de nossos chacras em tons desfocados de neon, rosados e lilases. De relance, avistei o céu e as estrelas pela janela da nave.

Meio de lado, eu pude ver o medo estampado nos olhos de Carol. Mas, eu sentia que as criaturas não nos fariam mal algum. De repente, aquele que parecia ser o líder aproximou-se e, telepaticamente em nossa língua, perguntou meu nome e o de minha esposa. O que fazíamos e para onde estávamos indo.

Tenso, expliquei que eu e Carol iríamos a uma cidade próxima de onde eles nos encontraram, para nos divertirmos na chácara de uns amigos.

Ele pareceu não entender o significado de “nos divertirmos”.

Eu quis saber a qual planeta eles pertenciam. Ele disse-me ser de “Turion”, localizado a 75 anos luz de nosso planeta e que estavam aqui na Terra conduzindo um projeto a eles destinado, tendo como missão ajudar em questões genéticas.

Comentei o fato de sua semelhança física com o povo daqui, e ele respondeu que aparência é algo que pode ser plasmado, e que é disponibilizado a muitos em algum momento de sua trajetória, para determinados fins.

Ele ainda afirmou que, de fato, não precisava daquele corpo, e que o recurso nada mais era do que uma conexão “visível” do fluído cósmico, aliado ao veículo fisiopsicossomático, presente em nossa civilização.

Deixou claro também o fato de fazermos parte de um estudo chamado “Projeto Terra”, destinado ao progresso deste orbe e que ficássemos tranquilos, pois o derradeiro momento, planejado há 50 anos terrestres foi superado, sem traumas maiores para os habitantes daqui. Respiramos mais aliviados.

Em seguida deu-nos um líquido cor de anis para que bebêssemos; segundo eles, um estabilizante metabólico. Mas, depois de o ingerirmos, adormecemos. Acordamos em um local próximo a umas árvores, a cinco quadras da casa de Júlio e Ester, em Itararé da Serra. Fomos bem recebidos pelo casal que divertiu-se muito com nossas expressões assustadas, e também, ante a rapidez com que chegamos à chácara, apenas 45 minutos ante a previsão de 2 horas. Rimos a valer.

Tomamos um banho e depois jantamos na varanda da casa, tendo à nossa frente um maravilhoso cenário rupestre de cair o queixo de qualquer um.

O fato de termos chegado sem o carro alugado no aeroporto e nenhuma bagagem, deu muito o que falar.

Argumentamos que tal desfecho se deu, uma vez que fomos assaltados no caminho. Por fim, nossa estadia na chácara foi para lá de divertida e retornamos na semana seguinte a São Paulo, felizes da vida, mas não sem antes resolvermos uns perrengues com a locadora. Mais do que evidentes, mais do que necessários.